REPUBLICAÇÃO DE CARTA ABERTA DIRIGIDA A
SUA EXCELÊNCIA, O PRESIDENTE DA REPÚBLICA
A 7 de Janeiro de 2019, Sua Excelência o Presidente da República, Professor Doutor Marcelo Rebelo de Sousa, em declarações à imprensa, desejou que a negociação entre Governo e Enfermeiros terminasse bem.
Lembrar que continuam a ser relatados problemas com doentes em condições indesejáveis e indignas, nas urgências, tempos de espera e demora brutais.
A título destas declarações, republico a carta aberta que em 2018.04.02, dirigi a Sua Excelência o Presidente da República, bem como a resposta me me dirigiu.
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PROFESSOR
DOUTOR MARCELO REBELO DE SOUSA
Excelentíssimo Senhor
Presidente
da República Portuguesa
Professor
Doutor Marcelo Rebelo de Sousa
Palácio de Belém
Calçada da Ajuda
Calçada da Ajuda
1349-022 Lisboa
Excelência,
Sou Humberto José
Pereira Domingues, Enfermeiro de profissão, com a Especialidade em Saúde
Comunitária.
Sou um defensor
do Serviço Nacional de Saúde (SNS).
Permita-me Vossa
Excelência, Senhor Presidente, que me dirija em carta aberta, a fim de, para
além de dar conhecimento da minha preocupação sedimentada em anos de trabalho e
auscultação da sensibilidade de inúmeros colegas e apelar à atenção de Vossa
Excelência para o que vou descrever, que estou convicto ser acompanhado senão
por Todos os ENFERMEIROS PORTUGUESES, pelo menos pela grande maioria, nesta
minha humilde mas sentida carta.
Os ENFERMEIROS
PORTUGUESES estão exaustos, esgotados na sua actividade profissional e
sentem-se marginalizados e mal tratados por todo um Estado e poder Político, de
todo o espectro partidário e de movimentos políticos, da direita à esquerda,
com ou sem representação parlamentar.
Senhor Presidente
da República Portuguesa, hoje os ENFERMEIROS PORTUGUESES não têm uma carreira
digna e não progridem na sua vida profissional há dez, doze, quinze e mais anos.
Não são remunerados condignamente, face às habilitações literárias,
especializações e responsabilidades que têm no âmbito das suas actividades
profissionais, sejam elas de âmbito público ou privado, face ao desgaste
físico, psíquico e emocional que a nossa profissão provoca. Uma larga maioria
dos ENFERMEIROS PORTUGUESES possui habilitações literárias que vão muito para
além das profissionais básicas, obtidas a expensas próprias, com sacrifícios
pessoais e familiares enormes (sem equivalências duvidosas ou certificadas ao
domingo), que as põem ao serviço do seu desempenho, sem serem gratificados
pelas mesmas.
É hoje sabido que
os ENFERMEIROS PORTUGUESES são dos mais qualificados do mundo. É uma verdade
inquestionável! E a qualidade que na maioria dos serviços de saúde têm, e dos
indicadores de saúde que se obtém, devem-se também inequivocamente, à gestão e
prestação de cuidados de saúde dos Enfermeiros.
Com base na
Constituição Portuguesa, no seu artigo 13º.Princípio da Igualdade (“Todos os
Cidadãos têm a mesma dignidade social e são iguais perante a lei”) e no artigo
64º. (alínea b) do nº. 3 “garantir uma racional e eficiente cobertura de todo o
país em recursos humanos e unidades de saúde), ora, efectivamente o Estado não
possibilita os mesmos cuidados de saúde para todos os cidadãos, com os mesmos
recursos humanos, nomeadamente ENFERMEIROS. Afirmo com base no seguinte:
·
Pode
um cidadão Português dizer que é igualmente bem tratado quando num internamento
tem apenas 2 enfermeiros por turno da noite para tratar de 25, 30 a 35 doentes?
·
Pode
um cidadão português dizer que é bem tratado, quando os Enfermeiros não têm
tempo, face às inferiores dotações
dos serviços, para ouvir e escutar os seus doentes, nas inúmeras
necessidades de escutar e atender, para depois tratar condignamente este
cidadão doente que está diminuído na sua mais importante vitalidade? Relação
esta (relação de confiança), inequivocamente importante, que tem que ser
estabelecida entre utente/doente e Enfermeiro e vice-versa;
·
Pode
um ENFERMEIRO PORTUGUÊS estar satisfeito com o seu desempenho de prestar
cuidados de Enfermagem ao Utente/Doente/Família, quando não tem tempo, espaço
físico para ouvir o doente e familiares, num âmbito de plena privacidade, ao
direito de cada um, de não ser exposto nem escutado por terceiros, que nada têm
a ver com aquele momento de vida privada e intima que está diminuída, por estar
doente?
·
A
relação de confiança, nestas circunstâncias, entre o utente/doente e Enfermeiro
ou outro Profissional de saúde, pode ser conseguida e garantida?
·
Como
é possível qualificar o tipo de tratamento e cuidados de Enfermagem, dirigidos
ao doente/utente/Família, quando não é personalizado, devido à falta de
recursos humanos, falta de dotações
seguras nos serviços e falta de inúmeros materiais quer de consumo
clínico, quer de nível hoteleiro e de rouparia? (Relatos largamente difundidos
pela Comunicação Social)
·
Pode
um cidadão Português dizer que é bem tratado quando está horas e dias deitado
numa maca, de colchão já estafado, sentindo-se os ferros da mesma, que magoam o
corpo, sem dar outra oportunidade aos Enfermeiros de turno para acomodar este
doente/paciente em melhores condições? (Relatos difundidos pela Comunicação
Social)
·
Pode
um cidadão português dizer que é bem tratado, quando não tem privacidade nos
cuidados de saúde que recebe, quando fica exposto a outros doentes, por
impossibilidade física dos serviços e não
por incompetência dos Enfermeiros ou por “descuido” dos seus mais basilares
procedimentos?
·
Como
pode um idoso dizer que é tratado com dignidade, ao fim de uma vida difícil, de
sacrifícios, de longos anos de descontos e contribuições para a segurança
social e, depois nem uma cama digna têm para repousar e ser tratado, quando
recorre aos serviços de urgência e os Enfermeiros sentem-se impotentes, porque
não têm alternativa à acomodação destes doentes? (Relatos que a Comunicação
Social também difundiu)
·
Que
dignidade têm os serviços de saúde, quando oferecem aos seus concidadãos, nas
urgências e serviços de internamento, cadeirões esburacados, molas danificadas,
estofos e colchões estafados, e os Enfermeiros não têm outro material para
acomodar os seus doentes? (Relatos que a Comunicação Social difundiu)
Excelência, os
Hospitais, Centros de Saúde e Unidades de Saúde do SNS, praticam e oferecem às
comunidades e cidadãos Portugueses cuidados de Enfermagem e de outras classes
profissionais, de altíssima qualidade, numa entrega, de espírito de missão e de
valores, diariamente praticados. São estes ENFERMEIROS PORTUGUESES, que são o
sustentáculo do SNS e que tão mal têm sido tratados pelo Estado e poder
politico instalado no Terreiro do Paço, em S. Bento e na Casa da Democracia e
Representação do POVO, Assembleia da República. É também meu entendimento, que pela
Presidência da República não sinto nem tenho visto o apoio que, julgo, que se
merecia e merece, para esta classe Profissional- ENFERMEIROS PORTUGUESES.
São estes mesmos ENFERMEIROS
PORTUGUESES que aguardam que lhes sejam pagas inúmeras horas extraordinárias e
de penosidade que já deram nas suas instituições de saúde, há largos meses, em
favor dos doentes, para que os serviços não entrassem em rotura.
São estes mesmos
ENFERMEIROS PORTUGUESES, que vêm promessas de governantes não cumpridas,
sistematicamente adiadas e uma carreira digna e com reconhecimento e
remunerações condignas, sempre protraída.
Senhor Presidente
da República, como pode haver dignidade da profissão, quando Enfermeiros
competentes, com 15 e 20 anos de serviço, com dedicação total e exclusiva, ao
serviço da saúde e da vida, têm no seu recibo de vencimento pouco mais do que
900€ ao final do mês? E não haja qualquer dúvida sobre o desgaste rápido que
esta profissão provoca. E que valor de reforma vão ter estes profissionais,
mais tarde?
Senhor Presidente
da República Portuguesa, como pode haver esta dualidade de tratamento pelo
Estado e poder político, quando:
·
Possibilita
que a EDP com um lucro de 1520 milhões de euros em 2017, só pague 10 milhões de
euros em imposto efectivo, ao estado; (Amplamente relatado pela Comunicação
Social);
·
Possibilita
que as receitas das portagens da ponte 25 de Abril vão para a Lusoponte e o
Estado Português (através dos impostos de todos os contribuintes) é que paga as
obras de reparação e manutenção desta ponte; (Amplamente relatado pela
Comunicação Social)
No entanto,
este mesmo Estado e poder político;
·
Não paga
18.500 horas em dívida aos Enfermeiros no Hospital de Coimbra; (Relatado
pela Comunicação Social);
·
Tantos outros
milhares de horas por pagar aos Enfermeiros Portugueses, por esses Centros de
Saúde e centros hospitalares de todo o Portugal;
·
Injecta
milhares de milhões numa banca falida (BES, BPN, BCP e CGD), desproporcionada e
sorvedora dos dinheiros públicos e dos contribuintes;
·
Não actualiza
remunerações e não cria nova carreira condigna, aos Enfermeiros Portugueses;
Para
além de tudo o descrito, não cria nenhum tipo de compensação ao desgaste rápido
dos Enfermeiros e às doenças daí advindas – Ansiedade, depressão e insónias
(segundo um estudo recente e publicado).
Dá que pensar,
Senhor Presidente da República, Professor Doutor Marcelo Rebelo de Sousa, dá
que pensar!
Senhor Presidente
da República Portuguesa, os ENFERMEIROS PORTUGUESES, tal como o nosso POVO, são
pessoas de bem. Para além disso, e porque são profissionais altamente
qualificados, responsáveis e gente que cuida de gente, conhecem o
valor da vida humana e por isso estão ao serviço da vida, esforçando-se 24
horas por dia e 365 dias por ano, para estar sempre junto dos seus
utentes/clientes/famílias/comunidades e territórios.
Mas também,
porque os ENFERMEIROS PORTUGUESES são responsáveis, altamente qualificados e
sabem a importância e responsabilidade que têm no SNS Português, chegou a hora
de dizer basta e exigir a dignificação da sua classe, da sua carreira e do
trabalho que desenvolvem, como parceiros independentes, activos e
insubstituíveis no seio nas Equipas Multidisciplinares no âmbito da Saúde.
Senhor Presidente
da República, Professor Doutor Marcelo Rebelo de Sousa, permita-me pedir, que
não considere deselegante esta carta aberta dirigida a Vossa Excelência. Apenas
mais uma forma de deixar um pedido. Um pedido sentido e verdadeiro, dirigido ao
mais alto Magistrado da República Portuguesa, para que não deixe “sofrer” mais
o SNS e, para que, no uso na mais leal e verdadeira diplomacia, através dos
canais e vias de influência que possui, ajude a ENFERMAGEM E OS ENFERMEIROS
PORTUGUESES a merecerem o devido respeito e reposição de dignidade por esta
nobre profissão, pelo Estado e poder político desta nossa nobre Nação. E como
gostaria de ver, com o alto patrocínio de Vossa Excelência, um grande debate
nacional e reflexão em torno do papel da ENFERMAGEM e DOS ENFERMEIROS PORTUGUESES,
nas conquistas dos bons indicadores de saúde, que hoje o nosso País exibe e nas
condições de trabalho, carreira e remunerações, que os mesmos são alcançados.
Humberto José Pereira
Domingues
Enfermeiro Especialista
Saúde Comunitária
2018.04.02
Post scriptum- A Presente
carta, 2 dias após o envio a Vª. Exª., vai ser publicada nas redes sociais e
imprensa escrita"
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