terça-feira, 24 de maio de 2022

ENFERMEIROS JÁ ESPERAM LONGAMENTE A RECONTAGEM DO TEMPO DE SERVIÇO

ENFERMEIROS JÁ ESPERAM LONGAMENTE 
A RECONTAGEM DO TEMPO DE SERVIÇO


Na cerimónia de abertura e de encerramento do Congresso dos Enfermeiros que decorreu em Braga nos dias 5 a 7 de Maio, estiveram presentes os Srs. Secretários de Estado da Saúde, Drª. Maria Fátima Fonseca e Dr. Lacerda Sales, respectivamente. Ambos, nos seus discursos, se comprometeram publicamente perante as autoridades e todos os presentes, na reposição dos pontos tirados aos Enfermeiros e na contagem do tempo, quando era Ministra da Saúde a Drª. Ana Jorge, do “famigerado” governo de José Sócrates.

No Dia Internacional do Enfermeiro, a Srª. Ministra da Saúde, Doutora Marta Temido, voltou ao assunto e comprometeu-se nesta reposição e valorização da Carreira de Enfermagem, até ao final do presente ano.

Estamos admirados com esta mudança de atitude e vontade de diálogo da Srª. Ministra e do Governo Socialista, que até agora perseguiu os Enfermeiros, insultou-os, não os recebeu em audiência, e retirou pontos da contagem de tempo, “congelou a carreira” e não repôs o que o próprio Governo Socialista de outros tempos retirou! Mas qual será a razão desta mudança tão repentina de atitude? Parece-nos simples! Começa a haver sentenças dos Tribunais, dando razão aos Enfermeiros, sobre a contagem de tempo e os pontos indevidamente retirados. Ora bem, parece-nos que o Governo, perante estas sentenças que não lhe são favoráveis, quer-se antecipar e por isso pretende negociar e atribuir os pontos e normalizar a contagem de tempo. Ao fazê-lo “na secretaria”, cria um facto político, repõe aquilo que a Justiça lhe iria obrigar a fazer, e depois, pode dizer que foi o Governo que decidiu! Usa uma estratégia para os mais distraídos, para tentar ficar bem na “fotografia”.

E a atitude é tão diferente, que até a Srª. Ministra da Saúde dedica uma mensagem no Dia Internacional do Enfermeiro, contrariamente ao que fez no passado, “reconhecendo o papel de relevo dos Enfermeiros na melhoria dos cuidados de saúde que o SNS presta às populações”. Reconhece que os Enfermeiros são uma “peça fundamental de uma resposta maior, o nosso SNS”. Assume a “criação de pontes”, a reposição dos pontos perdidos e afirma que está “comprometida com os Enfermeiros em particular”!

Ao longo da sua mensagem dedica palavras de reconhecimento, do sacrifício pessoal e dedicação que os Enfermeiros deram ao SNS. No passado nem pronunciava a palavra “Enfermeiro(s)”! Que estranho este reconhecimento! Que mudança de estratégia e de atitude! Quando a esmola é grande, o pobre desconfia. O que aí virá?

Para efectivamente demonstrar o quanto os Enfermeiros dedicam o seu esforço, prestação e sacrifício, apesar de mau remunerados e não reconhecidos, deixo alguns resultados alarmantes e assustadores de um estudo realizado e divulgado no Congresso dos Enfermeiros, pela Profª. Doutora Raquel Varela e outros Professores/Colaboradores do Observatório para as Condições de Vida e Trabalho/Nova FCSH:

  • Enfermeiros mais antigos na profissão e mais velhos sofrem de maior exaustão emocional;
  • Profissionais com maior carga horária têm maiores índices de esgotamento emocional;
  • Enfermeiros (mais de 26%) trabalham em média demasiadas horas por semana com casos extremos acima de 70 horas;
  • A maioria dos Enfermeiros (65%), exercem a sua profissão no sector público e em contexto hospitalar;
  • Têm horário rotativo (57%) e trabalho por turnos (74%), com uma percentagem elevada de trabalho nocturno (60%);
  • Entre muitos indicadores ressalta um, em que um número importante de Enfermeiros (97,2%), não gozam de sete dias seguidos de férias há mais de 350 dias;
  • Muitos destes valores reflectem-se no índice comparável, (inter-classes profissionais) de exaustão emocional de 3,42 pontos, bastante acima do valor de 2 pontos, considerado normal.
  • Uma carga horária excessiva corresponde em média os maiores níveis de esgotamento emocional. Os Enfermeiros que trabalham mais horas têm índices mais preocupantes de burnout.
Perante estes indicadores, resultados e conclusões do presente estudo, é deveras assustador o desgaste físico, emocional e psicológico que os Enfermeiros sofrem.

Este estudo veio trazer ao conhecimento público aquilo que a Ordem dos Enfermeiros suspeitavam e que a Srª. Bastonária vem há muito tempo, dizendo. Há efectivamente necessidade de reavaliar a Carreira de Enfermagem, reconhecer a Profissão de Enfermeiro como uma profissão de risco e desgaste rápido e por isso antecipar a idade da reforma, atribuindo também o subsídio de risco, como acontece em outras profissões e atribuído recentemente.

De promessas políticas e boas intenções, estão já os Enfermeiros cheios. Os Governantes e políticos têm trilhado um caminho da descrença, com discursos e atitudes descredibilizadas e de fundamentalismo, sem (re)conhecer a realidade e com isso, infelizmente, é o comum e pobre Cidadão, que se vê afastado de melhores cuidados de saúde. Aguardemos agora, o que estes “vendedores de promessas” recentes, vão fazer!

Humberto Domingues
Enf. Espec. Saúde Comunitária
2022.05.18

quinta-feira, 19 de maio de 2022

MENSAGEM MINISTRA DA SAÚDE - DIA INTERNACIONAL DO ENFERMEIRO

MENSAGEM MINISTRA DA SAÚDE

DIA INTERNACIONAL DO ENFERMEIRO

Link:

No Dia Internacional do Enfermeiro, a Srª. Ministra da Saúde, Doutora Marta Temido, comprometeu-se nesta reposição e valorização da Carreira de Enfermagem, até ao final do presente ano.

Estamos admirados com esta mudança de atitude e vontade de diálogo da Srª. Ministra e do Governo Socialista, que até agora perseguiu os Enfermeiros, insultou-os, não os recebeu em audiência, e retirou pontos da contagem de tempo, “congelou a carreira” e não repôs o que o próprio Governo Socialista de outros tempos retirou! Mas qual será a razão desta mudança tão repentina de atitude? Parece-nos simples! Começam a haver sentenças dos Tribunais, dando razão aos Enfermeiros, sobre a contagem de tempo e os pontos indevidamente retirados. Ora bem, parece-nos que o Governo, perante estas sentenças que não lhe são favoráveis, quer-se antecipar e por isso pretende negociar e atribuir os pontos e normalizar a contagem de tempo. Ao fazê-lo “na secretaria”, cria um facto político, repõe aquilo que a Justiça lhe iria obrigar a fazer, e depois, pode dizer que foi o Governo que decidiu! Usa uma estratégia para os mais distraídos, para tentar ficar bem na “fotografia”.

E a atitude é tão diferente, que até a Srª. Ministra da Saúde dedica uma mensagem no Dia Internacional do Enfermeiro, contrariamente ao que fez no passado, “reconhecendo o papel de relevo dos Enfermeiros na melhoria dos cuidados de saúde que o SNS presta às populações”. Reconhece que os Enfermeiros são uma “peça fundamental de uma resposta maior, o nosso SNS”. Assume a “criação de pontes”, a reposição dos pontos perdidos e afirma que está “comprometida com os Enfermeiros em particular”!

Ao longo da sua mensagem dedica palavras de reconhecimento, do sacrifício pessoal e dedicação que os Enfermeiros deram ao SNS. No passado nem pronunciava a palavra “Enfermeiro(s)”! Que estranho este reconhecimento! Que mudança de estratégia e de atitude! Quando a esmola é grande, o pobre desconfia. O que aí virá?

De promessas políticas e boas intenções, estão já os Enfermeiros cheios. Os Governantes e políticos têm trilhado um caminho da descrença, com discursos e atitudes descredibilizadas e do fundamentalismo, sem (re)conhecer a realidade e com isso, infelizmente, é o comum e pobre Cidadão, que se vê afastado de melhores cuidados de saúde. Aguardemos agora, o que estes “vendedores de promessas” recentes vão fazer!

Humberto Domingues
Enf. Espec. Saúde Comunitária
2022.05.19

quinta-feira, 12 de maio de 2022

EU, NA PRAÇA DA ALEGRIA NO DIA INTERNACIONAL DO ENFERMEIRO

EU, NA PRAÇA DA ALEGRIA NO DIA INTERNACIONAL DO ENFERMEIRO 

Link:

https://fb.watch/cZMxBu_jK5/

https://fb.watch/cZMmYdYp7S/

Hoje, no Dia Internacional do Enfermeiro, estive na RTP-1, no programa Praça da Alegria, a representar os Enfermeiros e a deixar o meu testemunho, de quem se infectou na prestação de cuidados e esteve internado em Cuidados Intensivos, onde quase morri.

Uma palavra de gratidão a tofos que cuidaram e trataram de mim, particularmente aos Enfermeiros, e a Todos os Colegas e Amigos.

Um obrigado sempre especial e muito presente à minha Esposa, Filhos, Pais e Irmão e Toda, Toda a minha Família. 

Gratidão!







Humberto Domingues 

Enf. Espec. Saúde Comunitária 

2022.05.12

segunda-feira, 9 de maio de 2022

O QUE A SARS-COV-2 E A COVID-19 ME FIZERAM - IV

Em virtude de vários acontecimentos e vários pedidos, republico de forma sequencial, os meus artigos/crónicas descritivas, já publicadas,
sobre a minha vivência e experiência com o SARS-COV 2.

O QUE O SARS-COV-2 E A COVID-19 ME FIZERAM! - IV


Finalização do artigo publicado em 11, 25.Set e 9.Out.

Caros Leitores, continuo hoje a escrever para falar de mim. Uma experiência vivida na primeira pessoa-Eu! No exercício de funções fui infectado com o “vírus SARS-CoV-2”, tal como tantos outros Profissionais de Saúde, quer em Portugal, quer no Mundo.

Após a alta hospitalar, no aconchego do lar, o carinho, o afago da esposa, dos filhos e dos meus pais e todos os familiares, nunca faltou. Permanecem na memória várias imagens: Os meus Pais e a minha Esposa, vivendo à distância momentos dolorosos. Apesar da distância física que nos separava, os poucos momentos que foram permitidos à minha Esposa estar fisicamente ao meu lado na cama dos Cuidados Intensivos, foram de num miminho extremo, com aquele doce olhar que poderia ter sido o último, na despedida… até à eternidade... Estes momentos de afago e carinho, quase sem palavras… foram muito bons… mas ao mesmo tempo dolorosos. Com toda a certeza, esta presença, contribuiu para me fazer agarrar à vida.

Ver os meus Pais, estar com os meus Pais com a distância necessária e preventiva e, não os poder abraçar…. As saudades apenas foram saciadas com o olhar, com a voz e a presença ao portão da casa.

Ver os meus Filhos com todo o semblante de tristeza, limitados todos nós na expressão de afecto familiar e privados de abraços, convívio e refeições conjuntas, etc… era tudo muito estranho. Até porque no nosso lar, a minha Esposa (também Profissional de Saúde) estava isolada e em confinamento, por estar infectada. O carinho e amor dos Filhos tiveram uma expressão máxima, porque eram eles que cozinhavam, me ajudavam a tomar banho, faziam a lide e a gestão da casa, devido às limitações, nosso isolamento e incapacidade física para o fazer. O contacto tão desejado com o meu Irmão, Cunhados, Sogros e Sobrinhos resumia-se ao contacto telefónico e pelas novas tecnologias de comunicação.

Tudo muito cruel e distante!

Coisas que hoje voltaram a ter um valor incalculável: Voltar a sentir a partilha e o convívio com a Esposa, o abraço dos Pais, dos Filhos e outros Familiares. Voltar a entrar em casa. Voltar a ver o mar. Voltar a sentir, “saborear” o cheiro do meu quotidiano… Começar a cruzar com os Amigos e conhecidos… Um mundo infindável de coisas!

Depois, dia-a-dia, havia que se trabalhar a recuperação. Comecei logo com fisioterapia e cinesiterapia, que ainda permanece, com várias sessões semanais, o que tem ajudado na recuperação funcional dos pulmões e nas saturações de oxigénio. E ao longo destes já 8 meses, havia que subir degrau a degrau, de um calvário que parece interminável, mas que tem que se enfrentar.

A doença COVID-19 não afecta só os pulmões desencadeando pneumonia. A doença COVID-19 é muito mais “agressiva” e deixa limitações e sequelas, e provavelmente algumas que ainda não conhecemos, que só o tempo e a investigação nos vão desvendar. Outras, infelizmente, já conhecemos e sentimos: Dores músculo-esqueléticas, perturbações psicológicas, neurológicas e psiquiátricas, etc… O doente COVD-19 , na sua fase de recuperação não é só um doente das especialidades de pneumologia e fisiatria, mas sim, de outras especialidades. Foi o padrão do sono que se alterou, e que ainda hoje não está regularizado, e por isso dificulta a vida diária, a concentração e a energia necessária a um sadio dia. O humor, o raciocínio, a memória e a capacidade e velocidade de correlacionar o raciocínio com o verbal, na rapidez e elasticidade que o cérebro possuía. A fadiga permanente!

Hoje já se fala na questão do doente “long covid”. E isso é uma realidade. Não se pode olhar só para este doente na perspectiva e especialidade da pneumologia, mas sim, numa visão holística do doente/paciente. Este doente/paciente vai apresentar queixas e disfunções orgânicas por muito tempo. A Medicina Familiar tem um papel importante e insubstituível no acompanhamento destes doentes. Precisa e continuará a precisar dos cuidados de várias especialidades médicas. Aguardemos os estudos que se estão a fazer e toda a evolução desta doença, com a implicação das novas variantes e a atenuação das complicações graças às vacinas (devo dizer que eu, no início, estava muito cético à vacinação), mas também ao comportamento preventivo de cada um.

Entre outras queixas, sabemos que os doentes que sofreram doença Covid-19, referem:

· Cansaço;

· Dispneia acentuada em caminhar em pisos com declive ou subida de escadas;

· Dispneia ao esforço (pegar em pesos, actividades repetidas);

· Dores articulares e musculares;

· Enjoo e náuseas;

· Perda de visão, que entretanto se vai recuperando alguma coisa;

· Perda de acuidade auditiva;

· Queda acentuada de cabelo;

· Aumento do intervalo interdentário;

· Dificuldade de concentração;

· Raciocínio lento e lenta transição do raciocínio para a oralidade e escrita;

· Etc.

Palavras de gratidão, devo-as a tantos Profissionais de Saúde. A todos os serviços da ULSAM por onde passei, à Medicina do Trabalho que me acompanha mensalmente, com uma simpatia e disponibilidade permanente e sem regatear esforços no pedido de colaboração, consultas e exames de outras especialidades médicas, para a minha recuperação ser plena. Ao Médico e Enfermeiro de Família pelo apoio e disponibilidade sempre presente e manifestada. À terapeuta que ao longo destes já longos meses de recuperação, me tem ajudado com fisioterapia e cinesiterapia nas várias sessões semanais. Têm sido de uma ajuda imprescindível.

Palavras de gratidão também, aos meus Colegas da Unidade e do meu Serviço (todas as Classes Profissionais), que inúmeras vezes, logo após a alta hospitalar, passaram no meu domicílio para se disponibilizarem a tratar-me e a ajudar no que fizesse falta. Nos inúmeros telefonemas que me dedicaram, para saber do meu estado e incentivar na recuperação. Uma preocupação constante!

Às pessoas amigas que ainda hoje, pelas diversas formas, se preocupam com o meu estado de saúde, o meu obrigado.

Numa outra perspectiva, apesar de Profissional de Saúde, mas agora como cidadão doente/utente/paciente, o que vi e vivi? Já numa fase mais recuperada, vi, nesta “minha” ULSAM, Profissionais de Saúde dedicados, esgotados, cansados e com um saber científico, imenso. Uma dedicação extrema aos doentes, conforme o seu estado de saúde/doença. Os serviços superlotados. Uma pressão imensa. A rotura dos serviços era iminente! Mas a dedicação e o profissionalismo era o mesmo.

Temos efectivamente um Serviço Nacional de Saúde vivo, com capacidade de resposta, mas que precisa de ser “acarinhado”, valorizado, potenciado, financiado e reconhecido. E os seus Profissionais, também, não com palmas, mas com valorização remuneratória e de carreiras! Tudo isto leva também a perguntar: Se não tivéssemos um SNS como o que temos, como tinha sido a capacidade de resposta e a capacidade de vacinação que se verificaram?

Um imenso sentimento de gratidão a Todos.

Fim.

Humberto Domingues
Enf. Especialista Saúde Comunitária
2021.10.21

O QUE O SARS-COV-2 E A COVID ME FIZERAM - III

Em virtude de vários acontecimentos e vários pedidos, republico de forma sequencial, os meus artigos/crónicas descritivas, já publicadas,
sobre a minha vivência e experiência com o SARS-COV 2.

O QUE O SARS-COV-2 E A COVID-19 ME FIZERAM! - III



Continuação do artigo publicado em 11 e 25/09/2021

Caros Leitores, continuo hoje a escrever para falar de mim. Uma experiência vivida na primeira pessoa-Eu! No exercício de funções fui infectado com o “vírus SARS-CoV-2, tal como tantos outros Profissionais de Saúde, quer em Portugal, quer no Mundo.

Não posso deixar de falar na minha “passagem” pelo Serviço de Urgência durante este percurso doloroso. Serviço cheio. Admissões permanentes. Grande número de doentes em observação. Profissionais assoberbados de trabalho. Avaliação permanente dos doentes e, gestão difícil, devido à limitação de vagas para internamento em consequência da afluência de Doentes Covid.

Nesta esmerada, competente e presença permanente de Enfermeiros e Médicos na monitorização e cuidar do meu preocupante estado de saúde/doença, chega a decisão clínica, após uma vaga ocorrida na Unidade de Cuidados Intensivos (UCI), para a minha transferência para esta Unidade. Quando se concretizou esta transferência para a UCI, contando com a querida e desejada presença da minha Esposa, um Colega que durante a manha cuidou de mim, fez questão de acompanhar a minha transferência para a nova Unidade e, este acompanhamento, fê-lo, apesar de já ter terminado o seu turno de serviço. Mas apesar disso, não saiu de turno sem antes me deixar na UCI. Só há uma palavra – Gratidão!

Chegou o dia de alta dos Cuidados Intensivos e transferência para os Cuidados Continuados/Intermédios, na Unidade de Covid da medicina 8. Que alegria! Mas o receio de regressão e voltar à UCI estava presente, também. Transferido no leito, com oxigênio ligado e vigilância. Sensação diferente à que vivi, quando da Medicina Crítica da Urgência, fui transferido para a UCI.

A estadia neste serviço (piso 8), onde já tinha estado antes de descer à Urgência e depois aos Intensivos, tinha agora, “outro sabor”. Um passo grande de recuperação, embora ainda, num percurso sinuoso a exigir muita vigilância e cautelas. Estar no leito, mas poder olhar pela janela da enfermaria e perceber o dia e a noite, o nascer do dia e o acaso, poder ver o mar, a entrada e saída de barcos de recreio, de pesca artesanal e mercantes, era uma coisa indescritível. As gaivotas que nos visitavam e pousavam no parapeito das janelas, pelo exterior. Coisas comuns, que agora tinham um espírito e “sabor” especial.

Coisas pequenas, mas extraordinárias foram acontecendo. A elevação do leito, o levante para o cadeirão, o banho na cadeira de rodas e por fim duche com ida e vinda pelo próprio pé e o tomar as refeições na mesa da enfermaria. Tanta conquista, já, que me emocionava e que me dava forças para lutar e continuar a viver. Mas a debilidade era grande. Muita massa muscular perdida. Algum desequilíbrio. Enjoos. Dificuldade em dormir, com o padrão do sono alterado. As “amigas” dores músculo-esqueléticas sempre presentes.

As refeições eram muito boas, cuidadas e com reforços de suplementos vitamínicos, para colmatar todas as perdas nutricionais que tinham ocorrido.

O momento era delicado. O contacto com os Familiares e exterior, só por via telemóvel ou telefone. Não havia visitas!

Mais um serviço, tal como os anteriores, e Equipas de excelência, onde para além dos cuidados de saúde prestados, a simpatia e afecto humano se faziam sentir. A preocupação para que o conforto e o bem-estar estivessem sempre presentes, era uma constante. Profissionais de fino recorte na excelência no desempenho com elevado conhecimento científico e humanização nos cuidados.

A Equipa de Enfermagem, apesar de desfalcada, estava sempre presente e dava resposta a todas as solicitações dos doentes graves e menos graves. A Equipa Médica respondia a todas as solicitações. Os Assistentes operacionais complementavam todos os cuidados, necessidades e solicitações, dentro das suas competências. Outras especialidades disseram presente e fizeram o acompanhamento: Fisioterapia/Cinesiterapia, Nutrição.

Os dias foram passando. A bateria de exames, análises e gasimetrias eram diárias. Nada podia faltar e não faltava, mesmo!

Se durante o dia se via a azáfama dos Profissionais, particularmente dos Enfermeiros, a tratar dos doentes, altas e admissões, tudo se complicava no turno da tarde e noite com a Equipa mais reduzida, mas uma intensidade de trabalho brutal. Mas o sorriso, a competência, o conhecimento científico, o olhar atento e clínico para o não-verbal dos doentes, era/é uma característica destes heróis, apesar dos semblantes de cansaço, das “olheiras” e de muitos quilómetros nas pernas, durante os turnos.

Há gestos que jamais podemos esquecer. A Enfermeira Gestora deste Serviço, minha Colega da Especialidade, tinha sempre um gesto de muito carinho, um miminho permanente: o envio de um café pós refeição do almoço. E no dia da alta hospitalar, o especial café vinha acompanhado por dois “bolos húngaros”, que a Colega tinha comprado na pastelaria, logo pela manhã, expressamente para mim.

Cá fora as preocupações com o meu estado de saúde eram muitas. Os Colegas da minha Unidade de Saúde, das diferentes classes profissionais, disseram sempre presente. Os meus Colegas, uns ainda no activo, outros já jubilados, de outra Unidade, com quem trabalhei e trabalho, fizeram uma corrente de fé, orações e de energia positiva, por mim. Muitas e muitas pessoas telefonaram à minha Esposa, aos meus Pais, a inteirarem-se do meu estado de saúde. A TODOS, estou-lhes muito grato. Não posso esquecer ninguém!

No dia da alta hospitalar, ver o meu filho mais velho na portaria do hospital para me trazer para casa, foi uma sensação indescritível. Voltar a ver aqueles olhos de diamante, com a cor do doce mel, foi fabuloso. Voltar a ver os meus Pais, embora à distância, prevenindo riscos desnecessários, ver a minha casa e sentir o abraço dos meus Filhos e Esposa, foi/é extraordinário e difícil de explicar. Ainda hoje o é! Muita emoção junta, muitas sensações únicas! Fazer o trajecto de regresso a casa, olhando e sentindo o mar, voltar a “viver o meu espaço”, não é traduzível em palavras!

Humberto Domingues
Enf. Especialista Saúde Comunitária
2021.10.09

O QUE O SARS-COV-2 E A COVID-19 ME FIZERAM - II

Em virtude de vários acontecimentos e vários pedidos, republico de forma sequencial, os meus artigos/crónicas descritivas, já publicadas,
sobre a minha vivência e experiência com o SARS-COV 2.

O QUE O SARS-COV-2 E A COVID-19 ME FIZERAM! - II



Continuação do artigo publicado em 2021.09.11

Caros Leitores, continuo hoje a escrever para falar de mim. Uma experiência vivida na primeira pessoa-Eu! No exercício de funções fui infectado com o “vírus SARS-CoV-2, tal como tantos outros Profissionais de Saúde, quer em Portugal, quer no Mundo.

Houve dias de dolorosas experiências…

Durante esta luta e resistência, só me lembrava que ainda era novo para partir, ia deixar as pessoas que mais amo para sempre – a minha Esposa, os meus Filhos, os meus Pais e o meu Irmão. Muitos Colegas estiveram presentes nestes pensamentos de despedida e de angústia. Tinha ainda tanto para viver e merecia viver mais!

Mas… a vida deu-me uma segunda oportunidade. Para além dos saberes da ciência e da medicina, uma força maior e divina esteve ao meu lado, com certeza, que me manteve vivo! Eu acredito nesta força divina!

A vivência nos Cuidados Intensivos e nos outros Serviços da ULSAM, neste internamento, obrigou-me a dar outro valor ao tempo, à noção do tempo e à vida. Um tempo mais demorado, mais marcado. Tudo passa a ser importante. O risco presente e vivido de se morrer, faz-nos estabelecer prioridades, relativizar muitas coisas e vontade de viver cada momento diferente, experiência ou situação, junto de quem amamos e queremos, com um sabor e prazer diferentes. E há tanta coisa boa para viver e desfrutar, e que na nossa correria desenfreada do dia-a-dia, nem notamos nem damos valor.

Nesta difícil e horrenda experiência, o MEDO, algo impessoal, invisível, abstrato, mas que marcou presença e que se fez sentir e me fez perceber a sua dimensão nociva e aterradora, nas suas variadas formas – obrigou-me a pensar muito e a temer sempre o pior! À pergunta se tive medo de morrer? Respondo: Sim tive! Tive muito, muito medo de morrer. E mais medo de morrer sem ter a oportunidade de me despedir de ninguém… de quem mais amo…de quem queria dizer… até um dia na imensidão… ou no céu para os crentes!

Os dias de internamento foram passando, perdendo-se a noção do tempo, se é noite ou dia. A frescura e brancura dos lençóis da cama acolhiam o meu corpo com toda a suavidade, diminuindo o impacto do mergulho da solidão de uma cama hospitalar e as dores esqueléticas que o vírus me impunha. Alguma orientação, em função das refeições, de resto, tudo é abstrato, distante, impessoal por estarmos entre paredes de vidro, isolados, na solidão dos “pis pis” das máquinas que me monitorizavam, mas sempre vigiado pelo olhar dos incansáveis Enfermeiros de turno! Algo de bom que sentia, era quando algum Profissional de Saúde, muito frequentemente me vinha “visitar”, perguntar como estava, se precisa de algo, ou dar “notícias” sobre a evolução, principalmente, após as gasimetrias.

A hora da higiene, pela manhã, era boa, porque apesar de impossibilitado de o fazer, os Colegas Enfermeiros proporcionavam o banho no leito, cama mudada, reposicionamento do corpo, e a preocupação sempre presente para proporcionar conforto físico e psíquico. Impossibilitado de me barbear, uma Colega Enfermeira, dedicou-me alguns minutos, ao barbear-me e oferecendo-me esse conforto. Todos os Profissionais extremosos e preocupados com o meu bem-estar, físico, emocional e o equilíbrio bio e psíquico.

A máscara facial de ventilação mecânica não invasiva de oxigenoterapia, “eterna companheira” destes dias dolorosos, não podia ser retirada! Apenas substituída por cânula nasal de alto fluxo, e rapidamente, por cânulas bi-nasais, quando chegava a hora da refeição. As saturações de oxigênio caíam rapidamente ao esforço com as mobilizações e posicionamentos para tomar as refeições. Após a ingestão dos alimentos, era imperativo o recolocar da máscara, sempre muito bem adaptada!

Percebia, nas rotinas, quando havia necessidade de fazer alguma punção para a gasimetria arterial, uma vez que a punção central, já se tinha perdido, por exteriorização do cateter, ao fim de alguns dias. A esperança estava sempre presente, quando este sangue arterial agora colhido, me trouxesse boas notícias e de evolução. No princípio muito poucas vezes aconteceu. Na maior parte, resultados eram estáveis, perto da linha d’água (da vida ou da morte). Às vezes sim, boas notícias, as saturações tinham melhorado 1%, 5%, 15%. Que alegria! A esperança renascia! E assim foram 11 dias nos Cuidados Intensivos.

Humberto Domingues
Enf. Especialista Saúde Comunitária
2021.09.21

O QUE O SARS-COV-2 E A COVID-19 ME FIZERAM - I

Em virtude de vários acontecimentos e vários pedidos, republico de forma sequencial, os meus artigos/crónicas descritivas, já publicadas, 
sobre a minha vivência e experiência com o SARS-COV 2.

O QUE O SARS-COV-2 E A COVID-19 ME FIZERAM! - I


Caros Leitores, hoje escrevo para falar de mim. Uma experiência vivida na primeira pessoa-Eu!

No exercício de funções fui infectado com o “vírus SARS-CoV-2, tal como tantos outros Profissionais de Saúde, quer em Portugal, quer no Mundo.

Após uma noite mal dormida e com sintomas do gênero de uma gripe forte, fiz o teste nesse mesmo dia e no dia seguinte tinha o resultado confirmado: “positivo para SARS-CoV-2”. Recolhimento ao domicílio e vigilância sobre os sintomas e estado de saúde.

Passados dois dias, recorro à urgência para reavaliação face a ligeiras queixas, não de “falta de ar” (dispneia), mas aumento da temperatura corporal. Feito RX torax e gasimetria arterial, os resultados apresentaram-se “normais” e portanto, sem razões para internamento, mas a necessária vigilância.

Seguiram-se 4 dias sem melhoras nenhumas, noites mal dormidas, uma actividade cerebral enorme e a temperatura corporal na ordem dos 38 a 39º, embora sem queixas de dispneia. Perante este estado de coisas, recorro ao S.U. de onde já não saí, ficando internado. O percurso depois foi demorado e doloroso, com passagem por vários serviços – Medicina critica, Cuidados Intensivos, Cuidados Continuados e finalmente, ao fim de 3 semanas, alta hospitalar.

A experiência mais assustadora:

Numa das noites nos Cuidados Intensivos “senti que ia partir desta vida terrena”, que ia morrer! Uma experiência horrenda! Uma personagem só com a face em caveira e o frontal do crânio, com uma cabeleira enorme e preta para trás, com um vestido negro, estende-me o braço direito, só em ossos, e com a ossada da mão direita, chama-me para junto dela, à entrada de um túnel negro, muito escuro e longo, com figuras também horrendas, bizarras e assustadoras, que esvoaçavam e outras estavam fixas nas paredes. As investidas eram grandes, e eu a tentar defender-me! Depois de muita resistência da minha parte, numa luta esgotante, e muita insistência da “personagem aterradora” que me queria levar, esta atira-me pequenos panfletos em forma rectangular de cor violeta escura, brilhante. Assustador! Terrorífico! Nunca antes vivido. Depois afasta-se de mim, numa atitude e “sorriso” de escárnio, menosprezo, assustador e ameaçador. Imagem horrenda!

Houve dias de dolorosas experiências…Durante esta luta e resistência, só me lembrava que ainda era novo para partir, ia deixar as pessoas que mais amo para sempre – a minha Esposa, os meus Filhos, os meus Pais e o meu Irmão. Muitos Colegas estiveram presentes nestes pensamentos de despedida e de angústia. Tinha ainda tanto para viver e merecia viver mais!

Os dias vividos nos Cuidados Intensivos, com os pulmões bastante infectados, com saturações de oxigénio muito baixas foram muito dolorosos. A incerteza de melhoras pairava… Vivi grande parte destes dias com a máscara de oxigénio em ventilação não invasiva permanentemente colocada, sempre muito bem apertada e ajustada à cabeça e à face com “tiras elásticas” para evitar fugas e perdas de O2 e assegurar uma ventilação eficaz e mais altas saturações de oxigénio, Ao fim de pouco tempo, torna-se incômoda e até dolorosa. Foi algo difícil de suportar. Após vários dias de uso desta mâscara, houve zonas da face que ficaram magoadas pelo apoio e aperto que suportaram, apesar da colocação de materiais de protecção e prevenção de feridas. Foram vários dias de permanência no leito, que cada vez se foram tornando mais dolorosos e desconfortáveis, em qualquer decúbito, apesar dos cuidados que me foram prestados de prevenção de escaras. A mobilização na cama era dolorosa. Dores articulares e musculares, astenia… perda de muita massa muscular, falta de ânimo… Os levantes do leito para o cadeirão, começaram por ser tímidos devido à falta de ar (dispneia) com os movimentos, mas também toda a funcionalidade músculo-esquelética estava debilitada, comprometida e por isso, não funcional. O medo de não mais recuperar… a impossibilidade de andar a pé, pelo próprio pé, estava muito presente. Associado a tudo isto, a incapacidade para a higiene pessoal diária, de forma autônoma. O padrão de sono alterado. No início, custa ouvir todos aqueles “pis pis” das máquinas que nos monitorizam. Depois habituamo-nos. Quando acontece o primeiro banho de corpo inteiro no duche, pelo próprio pé, apesar de vigiado para prevenção de quedas… uma grande conquista! Qual pudor, qual pensamento… constrangimento… algum… mas vamo-nos habituando, também.

Nesta difícil e horrenda experiência, o MEDO, algo impessoal, invisível, abstrato, mas que marcou presença e que se fez sentir e me fez perceber a sua dimensão nociva e aterradora, nas suas variadas formas, obriga-nos a pensar muito e a temer sempre o pior! A minha Família esteve sempre presente nos meus pensamentos. Fisicamente não era possível estarem comigo. Apenas a minha esposa pode estar, numa fugaz visita, (num momento para se despedir de mim até à eternidade) e por ser Técnica Superior de Saúde na Instituição Hospitalar. Tive muito, muito medo de morrer. Sim tive! E mais medo de morrer, ainda, sem ter a oportunidade de me despedir de ninguém… de quem mais amo…

Mas… a vida deu-me uma segunda oportunidade. Para além dos saberes da ciência e da medicina, uma força maior e divina esteve ao meu lado, com certeza, que me manteve vivo! Eu acredito nesta força divina!

No dia da alta hospitalar, ver o meu filho mais velho na portaria do hospital para me trazer para casa, foi uma sensação indescritível. Voltar a ver os meus Pais, a minha casa e sentir o abraço dos meus Filhos e Esposa, foi/é extraordinário e difícil de explicar. Ainda hoje o é!

Pensei muito, muito na minha Família. Pensei muito na minha Avó já falecida, que foi uma estrelinha que também me protegeu. Pensei em Deus, na Srª. de Fátima e em S. Pedro de Varais (Santo da minha Freguesia). Acredito que houve uma força maior, algo divino, que me protegeu.

P.S. – Uma palavra de agradecimento ao Sr. Director, Dr. Paulo Monteiro, do Jornal “Correio do Minho”, que manteve a sua disponibilidade para retomar a colaboração e publicação das minhas crónicas, interrompidas desde Janeiro/2021, devido à Covid-19.

Humberto Domingues
Enf. Especialista Saúde Comunitária
2021.09.10

sexta-feira, 6 de maio de 2022

ENFERMEIROS E TODOS PELA SAÚDE, EM CONGRESSO!

 ENFERMEIROS E TODOS PELA SAÚDE, EM CONGRESSO!

 


A Ordem dos Enfermeiros, com um título muito feliz –“Todos pela Saúde”- vai reunir em Congresso de 5ª. feira a sábado, na linda cidade dos Arcebispos-Braga. Um Congresso que conta com 1400 inscritos/participantes, com representações, comitivas e congressistas da Europa e dos PALOPs. Também representantes das várias Ordens dos Enfermeiros destes países.

A expectativa é de que seja um Congresso fabuloso, tocando inúmeras temáticas cruciais e indispensáveis, focadas no cuidar, no tratar, na investigação e a necessidade de investimento quer em recursos humanos, quer em instrumentos, tecnologia, telemedicina, instalações e infraestruturas, face à necessidade de dar respostas certas, oportunas e com equidade e em tempo útil, ao Cidadão doente e à Comunidade. Não faltará a dimensão religiosa e o cuidado espiritual. No fundo adequar ferramentas e conhecimentos para um “Sistema de Saúde” e para a promoção da literacia em saúde.

Os Enfermeiros são parceiros insubstituíveis com o seu saber, especialização, forma de ver holisticamente o Cidadão/Família/Comunidade, na composição das equipas multidisciplinares, cada vez mais necessárias e imprescindíveis, nas decisões de intervenção, tratamento, reinserção e alta.

Falar hoje em Saúde, para a Saúde e suas “latitudes”, deixou de ser “propriedade única” de uma profissão ou classe, seja ela qual fôr! A especificidade e o sentido da palavra “SAÚDE” é hoje de tal forma amplo, abrangente, complexo e desafiador, que nenhuma classe profissional, só por si, consegue dar resposta às necessidades e exigências que se colocam aos profissionais de saúde. Se por um lado a “BIO” do indivíduo sofre “anomalias” devido a disfunções, malformações, afectação por outros agentes químicos e/ou biológicos, é bem certo também, que o ambiente, a natureza, o ADN, a origem geográfica do indivíduo, têm influência no seu estado de saúde. As equipas de saúde têm que perceber e bem, esta realidade global, “mutante” e de mobilidade, para intervir localmente e em cada comunidade, acertadamente.

No âmbito da gestão, a saúde tem recursos finitos. Estes são cada vez mais escassos e caros. Face ao aumento da esperança de vida, as comorbilidades e às exigências e necessidades do presente e, as que se adivinham para um futuro muito próximo, há que ter no horizonte a necessidade de recrutar, formar e fixar aos quadros das instituições, mais profissionais de saúde, entre os quais Enfermeiros, que hoje já são deficitários no Serviço Nacional de Saúde (SNS). Há necessidade de criar e oferecer condições de carreira e remunerações atrativas para que estes não emigrem. O SNS não pode perder o seu know-how com a “sangria” de profissionais e o desinvestimento que se vem sentindo. O SNS robusto, faz falta aos Cidadãos e a Portugal. Basta pensar, com a Pandemia, se Portugal não tivesse o SNS, como seria? Na vacinação COVID, se não tivesse os Enfermeiros que tem, como alcançaria a excelente taxa de cobertura e vacinação?

Os Cidadãos têm o dever e o direito de exigir boas condições de tratamento, mas para isso, devem compreender, permitir e exigir bons e competentes profissionais que lhes prestem bons cuidados, em condições condignas.

Hoje com toda a experiência tida e vivida, sabemos da necessidade de reflectir sobre o futuro do Sistema de Saúde: O que temos, o que queremos e o que somos capazes de conseguir, construir e organizar. Que recursos terá este Sistema de Saúde e que orçamento lhe estará reservado? Os Enfermeiros não ficarão arredados desta sadia, urgente e necessária discussão, com participação activa. Têm um manancial enorme de contributos, visão e opinião fundamentada que só engrandece esta discussão. Ficará provado neste Congresso, com a partilha de muito trabalho de investigação, com evidência científica, que são contributos a acolher, para conseguirmos uma “boa Saúde para Todos”. Mas também, não pode haver, seja qual for o modelo de Sistema de Saúde, capaz, moderno, evolutivo e de resposta às necessidades em Saúde, se os seus profissionais não forem os melhores, mais motivados e remunerados.

Em Portugal precisamos de fazer, também na Saúde, uma profunda e séria reflexão sobre os seus Recursos Humanos. Não há dúvida de que os Enfermeiros têm uma profissão de risco e de desgaste rápido. A idade da reforma tem de ser repensada. Com a Pandemia podemos verificar que se acentuou o desgaste físico, psicológico e os altíssimos níveis de stress a que os Enfermeiros estiveram sujeitos e expostos! Estas questões são evidências, não são especulações! O Governo tem que seriamente abrir o debate sobre estas questões, chamar os parceiros à mesa de efectivas negociações e resolver de uma vez, alguns assuntos, que só por cegueira política e preconceitos ideológicos, ainda não foram resolvidos.

Quanto ao Congresso dos Enfermeiros – TODOS PELA SAÚDE – vai escrever-se na história da Ordem, na cidade dos Arcebispos, com partilha com a Europa e com os PALOPs, mais uma página de ouro, de riqueza científica e de dinâmica de trabalho e do conhecimento.

 

Humberto Domingues

Enf. Espec. Saúde Comunitária

2022.05.03

terça-feira, 3 de maio de 2022

DESAFIOS PARA A MINISTRA DA SAÚDE E SNS

DESAFIOS PARA A MINISTRA DA SAÚDE E SNS Nas diferentes épocas sazonais, como é o caso do Verão, o Ministério da Saúde está sempre sob “pro...