CARTA
ABERTA AOS PRESIDENTES DOS GRUPOS PARLAMENTARES
DA
ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA PORTUGUESA
Exmºs Senhores
Líderes
Parlamentares dos Partidos
Partido Social
Democrata - Fernando Negrão
Partido
Socialista – Carlos César
Bloco de Esquerda
– Pedro Filipe Soares
Partido
Popular/CDS – Nuno Magalhães
Partido Comunista
Português – João Oliveira
Partido
Ecologista os Verdes – Heloísa Apolónia
Partido Animais e
Natureza – André Silva
Data:
2019-06-02
Exmºs.
Senhores,
No exercício da
minha cidadania e liberdade de expressão, permitam-me Vªs. Exªs. que me dirija
desta forma, para em nome estritamente individual e pessoal, mas sem retirar a
importância que atribuo de pertencer à Classe Profissional de Enfermagem,
portanto sou ENFERMEIRO, de colocar várias questões e solicitar a intervenção,
que ao abrigo da Constituição Portuguesa e do Regimento da Assembleia da
República possam produzir a devida apreciação Parlamentar à Carreira de
Enfermagem.
O presente
Governo aprovou recentemente a nova “Carreira de Enfermagem”, publicada pelo
decreto-Lei nº. 71/2019 de 27 de Maio de 2019, que altera o regime da Carreira
Especial de Enfermagem e o Regime da Carreira de Enfermagem, nas entidades
públicas empresariais e nas parcerias em Saúde.
A Carreira agora
publicada, que apenas introduz pequenas alterações à anterior, continua a ser
redutora, não satisfaz, não traz valorização aos Enfermeiros e ainda por cima,
não dignifica nem a própria carreira, nem a profissão. E através dela, os
Enfermeiros sofrem a mais desagradável desvalorização remuneratória,
profissional e até social. Para além disso, não dá resposta às inúmeras
reivindicações dos Enfermeiros e necessidades do Serviço Nacional de Saúde
(SNS). As consequências da visão limitada e ancestral do Governo vão fazer-se sentir.
Aquando da
consulta pública, a Ordem dos Enfermeiros, Sindicatos, Movimentos e Enfermeiros
e nome individual, fizeram as suas sugestões, propondo modificações adequadas
com vista à sua alteração, daí, precisamente, a razão de ser uma consulta pública,
introduzindo-se melhorias ao documento. Mas o Ministério da Saúde e o Governo,
fizeram destas sugestões, tábua rasa e aprovaram a carreira em Conselho de
Ministros a 28 de Março, sem alteração alguma decorrente da “consulta pública”!
Apesar dos inúmeros
contributos da Ordem dos Enfermeiros e dos Sindicatos, este Governo, manteve
sempre, através dos dois Ministros da Saúde e do Ministro das Finanças uma
diminuição da acuidade auditiva face às propostas, negociações e exigências dos
Enfermeiros, para benefício também do próprio SNS. As lacunas são imensas!
Desde a progressão, à desvalorização económica, à redução para apenas 25% de
Enfermeiros Especialistas nos serviços, contrariando até percentagens e
exigências de outros diplomas de aplicação inequívoca em Unidades, tais como
USF’s, Serviços de Obstetrícia e blocos de partos/Maternidades, etc.
Para além da
perfídia por parte da Srª. Ministra da Saúde, que envolveu todo este processo
de negociação e publicação da nova Carreira, há inúmeros episódios ao longo
deste tempo que fizeram desacreditar todo este percurso, um dos quais, em que o
Sr. Primeiro-Ministro Dr. António Costa prometeu que os Enfermeiros seriam os
mais valorizados no descongelamento de carreiras e progressões, o que
efectivamente não veio a acontecer nem a concretizar-se. Portanto a “palavra
dada não foi honrada”.
Verificamos que
toda esta negociação por parte do Governo e Ministério da Saúde, foi gerida
numa agenda de mentiras e adiamentos falaciosos para com os Sindicatos, por
forma a arrastar todo o processo, face ao calendário eleitoral. A comunicação
social foi manipulada. A Sociedade foi enganada, tentando lançar o odioso para
o lado dos Enfermeiros Portugueses.
Apesar do
Dec.-Lei 71/2019, vir repor novamente a categoria de Enfermeiro Especialista, e
ser uma carreira pluricategorial (tricategorial), encontramos ainda muitos
constrangimentos desta “nova” Carreira de Enfermagem:
- Há claramente um condicionamento enorme na progressão para outras categorias;
- Há, paralelamente, um constrangimento enorme para que possa acontecer uma progressão remuneratória;
- A tabela salarial e remuneratória é desajustada à realidade, responsabilidade e habilitações profissionais e académicas que hoje os Enfermeiros possuem, o que se traduz numa desmotivação e não valorização destes profissionais;
- As grandes lacunas e desigualdades criadas, ou melhor, mantidas e continuadas, da diferenciação em CIT e CTFP, infelizmente estão bem presentes;
- A contagem de tempo de serviço e a forma preconizada é outro revés e constrangimento, traduzido em inúmeros obstáculos para uma efectiva progressão na Carreira de Enfermagem;
Assim, pelo
exposto, que apenas é uma parte das inúmeras lacunas, iniquidades, obstáculos e
desproporcional dificuldade que cria aos Enfermeiros Portugueses, face às
reivindicações, reconhecimento e mérito e à real necessidade existente para bem
do SNS, solicito a Vªs. Exªs. que no tempo que ainda resta da presente
legislatura, concretizem a necessária Apreciação Parlamentar, com a celeridade
que o assunto merece, da nova Carreira de Enfermagem/Decreto-Lei 71/2019 de 27
de Maio.
Com os melhores
cumprimentos
Humberto José
Pereira Domingues
Enf. Especialista
em Saúde Comunitária
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