MOMENTO REFLEXIVO
Desde há muitos anos e, particularmente, desde 2015, que a intervenção de Governo e Assembleia da República contra os Enfermeiros Portugueses, tem sido uma realidade.
O discurso surdo, narcisista e esquizofrénico do governo foi adiando a resolução das reivindicações dos Enfermeiros. Os Enfermeiros chegaram a um limite que desencadeou o aparecimento de movimentos inorgânicos, fora dos sindicatos, agitando toda esta “organização estável” até então vivida e que servia o interesse do Governo. Perante a necessidade de reposição de direitos, nova carreira e outras reivindicações, ressurgiram manifestações, greves, nasceram novos sindicatos e os Enfermeiros voltaram a ter alma.
A Ordem dos Enfermeiros e particularmente a sua Bastonária, Enfª. Ana Rita Cavaco, passou a estar presente nas discussões sobre Saúde, a participar de igual para igual, em paineis televisivos, telejornais e de grande informação. A defesa dos Enfermeiros, a sua formação e as suas reivindicações passaram a estar na agenda do dia.
O Ministério da Saúde começou a ser confrontado com uma verbalização e retrato da realidade, como nunca se tinha visto, levando até o Ministro da Saúde a admitir que as reivindicações dos Enfermeiros eram justas. Mas o descontentamento era crescente, a respostas a estas reivindicações não surgiam e em 2017, o grande desafio foi dado por um grupo de Enfermeiros – Enfermeiros Especialistas Saúde Materna e Obstetrícia EESMO’s – que ameaçou entregar as suas cédulas profissionais de especialistas e passarem a exercer como generalistas, criando o caos nos blocos de partos e maternidades. Foi um momento de grande coragem, força e essencialmente a demonstração da falta e necessidade destes profissionais num serviço tão importante como os blocos de partos e as maternidades. Foi e é de tal forma importante, com o caos a instalar-se que levou o Sr. Bastonário da Ordem dos Médicos, voltando atrás nas suas declarações, a aconselhar o Ministro da Saúde a chegar a acordo com os Enfermeiros. Seguiu-se a greve de uma semana e a culminar com a grande manifestação de 15 de Setembro em Lisboa.
Desde essa data até aos dias de hoje, falar de Enfermagem nunca mais foi igual! Foi de tal forma diferente, que se ouviram as maiores barbaridades e coisas estranhíssimas da boca de comentadores, políticos e responsáveis de inúmeras instituições a falar sobre o que não sabem, que é a Enfermagem. Inclusivamente, de quem tinha obrigação de saber e não o fez, como foi o caso do Presidente da Associação de Administradores Hospitalares, Dr. Alexandre Lourenço.
Chegados a estes dias, com a mudança de Ministro da Saúde, com a publicação de uma má carreira, com manifestações e greves, notamos, vimos e sentimos que, o Governo da Esquerda Geringonça, não defende os Enfermeiros, cativa verbas e não investe no SNS e por isso o vai desmantelando, tornando-o inoperacional e rudimentar.
Também notamos, vimos e sentimos que este mesmo Governo pós todas as suas engrenagens políticas, de influências e de autoritarismo a funcionar, manipulando informação, filtrando a informação dos e para os “midia”, inclusivamente pondo a inspecção e o “poder judicial” ao seu serviço, numa justiça que se quer e deseja imparcial, independente e ao serviço da Nação.
Depois de inúmeras peripécias, insultos e afrontas, julgo que muitas destas razões se devem ao facto de sermos muitos Enfermeiros e o “peso” do número de votos contar, por isso é preciso – dividir para reinar - foi o lema! Por outro lado, nesta mesma perspectiva, não é cômodo para o Governo e para o poder político ter uma Ordem Profissional e uma Bastonária, que com a sua independência, chame as coisas pelos próprios nomes, confronte directamente os Deputados, Ministros, Secretários de Estado e demais governantes e políticos para as coisas e situações que se vivem. E como este Governo não quer vozes independentes e incômodas, tenta a todo custo, que nas próximas eleições dos Órgãos Sociais da Ordem dos Enfermeiros, a Enfª. Ana Rita Cavaco e a sua lista saia derrotada. Com esta derrota, pensada e desejada pelas mentes do governo e de algum sindicato, seria um descanso. E deixava-se de falar de Enfermagem!
Assim, num momento reflexivo (a minha mensagem) partilha-lo com os Enfermeiros:
1- Pedir que sejamos clarividentes e não deixar a nossa Ordem para quem, em anos a fio, nada fez para a nossa Classe, nivelando sempre por baixo, qualquer diligência efectuada;
2- Não perder identidade, independência e capacidade de intervenção nacional, lado a lado e de igual para igual, com outras Ordens e Bastonários nas discussões das questões da Saúde, em Portugal;
3- O futuro precisa de Todos os que se sintam Enfermeiros, em torno da sua Classe profissional e da Sua Ordem, e não retalhados em sensibilidades políticas e sindicais, de desagregação da própria Classe;
4- A Ordem dos Enfermeiros precisa de uma Bastonária com voz activa, firme e esclarecida, porque os desafios serão sempre grandes, perante e em consequência de uma intervenção pública alargada, responsável, pedagógica e construtiva para um bom Serviço Nacional de Saúde (SNS), mas mais do que isso, para um excelente Sistema de Saúde (SS). Mas essa voz firme e esclarecida já a temos. É preciso mante-la e chama-se Ana Rita Cavaco.
5- Não nos deixemos distrair nem desviar o foco, com declarações à Comunicação Social, manipuladas, incorrectas, para desviar atenções da inoperância, incapacidade e gestão política da Srª. Ministra da Saúde e do Governo.
O Futuro, para a Classe de Enfermagem, está aí! O caminho a percorrer e as opções, em grande parte, dependem dos próprios Enfermeiros Portugueses. A demagogia, a hipocrisia e a manipulação, vão ter o seu pico alto neste período de campanha eleitoral para as legislativas. Promessas vão ser muitas e intencionalmente dirigidas à maior Classe Profissional do SNS. Estar alerta e saber discernir a realidade em contraponto ao ilusionismo e ao virtual, vai ser decisivo!
Humberto Domingues
Enf. Especialista Saúde Comunitária
2019.07.31 – 07h30
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