ENFERMAGEM NA INTERDISCISCIPLINARIDADE DA CIÊNCIA
E DO CUIDAR EM SAÚDE
Uma das grandes conquistas da democracia foi a qualidade e o nível de acesso que os cidadãos passaram a ter com/aos cuidados de saúde, através da criação e existência do Serviço Nacional de Saúde (SNS). Contudo, hoje, infelizmente, o sector da Saúde vive momentos conturbados neste nosso Portugal.
Evoluiu-se, até há alguns anos atrás, em instalações, em qualificação dos profissionais de saúde, nas especialidades, e na democratização do acesso aos cuidados de saúde. É inquestionável! Mas hoje sente-se o inverso. Falta de recursos humanos, listas de espera de cirurgias e primeiras consultas de especialidades, intermináveis, mobiliário, equipamento e instalações degradadas e obsoletas. No entanto, a qualificação técnica de Enfermeiros, Médicos e Técnicos de Diagnóstico manteve-se alta ou até aumentou.
Politicamente, ouvimos os seus responsáveis dizer que querem uma saúde igual para todos. Que querem equidade na saúde. E todos temos direito a mais e melhor saúde. Palavras agradáveis de ouvir. Muitas delas não passam de promessas vãs, porque quando há necessidade de investimento e decisões, estas nunca mais chegam ou acontecem.
O SNS possui profissionais com elevadas qualificações académicas e com uma diferenciação técnica e científica, elevadíssima. E aqui os Enfermeiros não fogem a esta realidade. Ignorar, por parte do Governo e do Ministério da Saúde, esta Classe Profissional e, para além disso, afronta-la com insultos, não reconhecimento da valorização académica e profissional com remunerações adequadas e, a mais–valia que representa para o SNS, é um erro de gestão política de grande magnitude.
Por isso, pensar um SNS, (que tantos querem destruir), sem Enfermeiros, pode ser outra coisa qualquer, mas não é o SNS.
Os Enfermeiros, como insubstituíveis quadros técnicos nas Equipas multidisciplinares/pluridisciplinares, possuem um saber científico muito evoluído. Um saber sustentado na prática e na investigação científica. Um saber científico, associado a várias disciplinas do saber, preocupado com a evolução, melhoria e qualidade dos cuidados a prestar ao comum cidadão doente/limitado, no sentido de lhe proporcionar mais qualidade de vida, melhor qualidade de vida, melhores anos à sua vida, melhor reabilitação e melhor reintegração na vida activa, quando o caso. São ENFERMEIROS brilhantes que partilham o seu saber, as suas investigações, as suas publicações, com outras classes profissionais e a transdisciplinaridade da ciência do cuidar em Saúde, de toda uma intervenção, acontece, quer seja na vida hospitalar, quer nos cuidados primários, quer na Comunidade, que possibilitam os indicadores de saúde que Portugal exibe, que vão desde as taxas elevadíssimas de cobertura vacinal, às reduzidas taxas de mortalidade infantil, natal e perinatal, etc. etc.
É todo este trabalho nas unidades e no dia-a-dia, investigações, publicações e comunicações dignas de referências ao mais alto saber do “campus” da ciência e da investigação, quer nas ciências médicas, como sociais e económicas, que atribuem qualidade internacional à Enfermagem Portuguesa.
Perante este riquíssimo saber, produzido por Enfermeiros, saberá, esta nossa Nação, este nosso Estado, este Governo, da existência deste conhecimento científico? Saberá que este conhecimento, investigação e técnicas são todos os dias postos ao serviço dos Cidadãos, com vista a melhorar a sua qualidade de vida? Penso que não!
A visão, particularmente dos Governantes e poder político, está demasiado limitada, distante e com amplitude reduzida para perceber isso, porque só conseguem ver, e mal, a arte e ciência médica (restrita), por muito valiosa que seja, e é, inquestionavelmente, mas há muito mais para além disso. É a arte e ciência dos Enfermeiros que existe nos hospitais, mas também nos cuidados de saúde primários e na comunidade. Estes Governantes como não percebem, como não valorizam, como não conhecem, não estão dispostos a serem confrontados com esta realidade e, por isso, também não estão dispostos a remunerar de forma proporcional estes valiosos Enfermeiros, pelo trabalho que realizam, em toda a amplitude de intervenção e ciclo vital. E é pena que assim seja. Muita pena! Porque, muitos destes brilhantes Enfermeiros, vão fronteira fora partilhar os seus valiosos conhecimentos em países que melhor os acolhem, reconhecem, gratificam e criam condições de continuidade de trabalho, direcção de serviços e investigação. E por isso não voltam.
Há necessidade de iniciar uma adequada campanha de comunicação e marketing para demonstrar o que de muito valioso já se faz nas diferentes unidades e dimensões da saúde, no cuidar e na investigação, protagonizado pelos Enfermeiros. A falta desta visibilidade junto da Sociedade é comoda ao poder político e ao Governo. Há que inverter este comodismo e promover o confronto de realidades – a real e a virtual. O tempo urge!
Humberto Domingues
Enf. Espec. Saúde Comunitária
2019.08.04 – 22h00
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