domingo, 24 de março de 2019

CARO CIDADÃO, HOJE ESCREVO PARA SI, E A PENSAR EM SI!


CARO CIDADÃO, HOJE ESCREVO PARA SI, E A PENSAR EM SI!

Como tem sido vastamente divulgado, debatido em diversos fóruns e assunto de inúmeras notícias ao longo destes últimos anos, é claramente, o desinvestimento na Saúde e particularmente, no Serviço Nacional de Saúde (SNS), que tem servido de “faca de dois gumes” e arma de arremesso, conforme o poder político está na oposição ou no Governo.


Este mesmo poder político, quando está na oposição, acusa o Governo de desinvestimento, de sacrificar o SNS, de demorar no pagamento a fornecedores e de maltratar os seus quadros (Enfermeiros, Médicos, Técnicos Superiores de Diagnóstico e Terapêutica, Psicólogos, Farmacêuticos, tec.). Quando vai para o poder, seja este “poder” político de esquerda ou direita, rateia o financiamento do SNS, faz cativações e sub-orçamenta em toda a linha. Relativamente aos Recursos Humanos atrás descritos, congela carreiras, não reconhece progressões, direitos adquiridos e força estes profissionais a excessos de horas de trabalho mal pagas e muitas destas horas, nunca mais pagas.

Com certeza ouviu falar, particularmente nos anos de 2017, 2018 e já em 2019 presenciou e testemunhou as reivindicações que os ENFERMEIROS PORTUGUESES têm levado a feito.

Com certeza também, Caro Cidadão, tem uma opinião formada sobre todas estas questões que se têm passado na Saúde e concretamente no SNS.

Com certeza, Caro Cidadão, já esteve internado num hospital, ou já esteve a visitar algum familiar ou amigo. Foi já ao Centro de Saúde receber cuidados de Enfermagem. Provavelmente, já recebeu, ou testemunhou esta prestação de cuidados nas unidades de saúde ou nos domicílios.

Os ENFERMEIROS PORTUGUESES têm sido protagonistas de uma luta nunca antes desencadeada, contra o Governo e o Poder Político, porque este não atende às suas reivindicações, mas pior do que isso, não negoceia, insulta e desvirtua a realidade, manipulando os acontecimentos e, depois, para a opinião pública, diz que lamenta ainda não ter chegado a acordo com estes profissionais.

Os ENFERMEIROS PORTUGUESES apesar de desencadearem formas de luta, umas mais “agressivas”, do que outras, nunca faltaram com os seus cuidados aos Cidadãos, fosse no leito do Hospital, fosse no Centro de Saúde, ou na visitação domiciliária para tratamento, administração de medicação paliativa, ou outra. Estivemos sempre presentes!

Mas nestas manifestações e greves legais, recebemos muita incompreensão e insultos do Governo e Poder Político e de Sua Excelência o Presidente da República. Até aqui não estranhamos!

A Comunicação Social, apesar de algumas excepções, debitou inverdades, e não procedeu ao contraditório. Admiramo-nos disso, num país que se diz livre, e com uma comunicação isenta, que deve ser, se não a maior, uma das maiores afirmações das democracias consolidadas! Muitos artigos e declarações de opinião de Enfermeiros, receberam o “lápis azul” e não foram publicados.

Mas a maior ingratidão que sentimos, veio de si Caro Cidadão. Fomos “mimados” e apelidados com insultos e perfídias. Chamaram-nos de oportunistas, que só pensávamos no dinheiro, etc, etc, etc.

Hoje, passados tantos momentos de luta, permitir-me-á perguntar-lhe:
  • É admissível, um profissional formado (licenciatura) e altamente qualificado, não progredir na sua carreira, durante 12, 15 ou 17 anos?
  • É admissível e aceitável, que os turnos nas unidades hospitalares e cuidados primários, sejam assegurados para a prestação dos cuidados de saúde, à custa de horas extraordinárias, porque de outra forma os serviços entram em rotura?
  • É admissível e aceitável, que em determinados turnos, com 30 a 40 doentes, só haja 1 ou 2 Enfermeiros de serviço, para vigilância de sinais vitais, administração de medicação, posicionamentos, atendimento de pós-operatórios e situações agudas que se possam desencadear, e que poderão por em causa a vida dos doentes internados? Um destes doentes, poderá ser você, Caro Cidadão!


Durante as “Greve Cirúrgicas 1 e 2” todos se queixaram de cirurgias adiadas, doentes que não foram operados, por causa dos Enfermeiros em Greve. Alguém se queixou antes, com a espera de dois, três e mais anos, para cirurgia? Alguém se queixou dos muitos doentes que infelizmente faleceram, na espera dessas mesmas cirurgias, muito antes das greves dos Enfermeiros? Têm a mesma acutilância nas críticas para com outros profissionais, quando em greve, como tiveram com os ENFERMEIROS?

Caro cidadão, sentimos ainda mais essa ingratidão que sobre nós ENFERMEIROS recaiu, porque nós cuidamos de todos vós, com dedicação, com profissionalismo, com saber científico e com princípios éticos e deontológicos. Lembramos, por exemplo que quando se queixa de alguma dor, lhe administramos um analgésico, lhe colocamos e tiramos as sondas que por ventura necessite, que o posicionamos no leito, com regras e saber científico, para evitar úlceras de pressão, anquiloses e más posturas, que lhe facultamos, dentro do possível e o que os serviços desfalcados possuem, o melhor conforto. Alertamos e pedimos a colaboração de outros profissionais, quando necessário. Escutamos os seus desesperos, as suas confissões e angústias e muitas vezes, somos os fiéis depositários dos pedidos de perdão para alguém, antes da “partida e viagem final”. Colhemos tantas vezes as vossas lágrimas de tristeza, devido ao resultado de um diagnóstico, à partida de um familiar, ou uma cirurgia que não correu bem. Mas também lágrimas de alegria, porque entregamos nos vossos braços, o filho acabado de nascer, o momento da alta hospitalar ou no domicílio, porque estão curados, reabilitados ou em recuperação.

Somos nós ENFERMEIROS, que ao toque da campainha, aparecemos junto a vós, 24 sob 24 horas. Veem as nossas caras, apesar de exaustas, durante turnos e turnos, e não dez ou quinze minutos ou uma única vez, no período inteiro, que estão internados.

Sei que é mais fácil fazer juízos de valor e criticar, ainda que a partir de notícias incompletas, comentadores tendenciosos, com falta de rigor e isenção, do que pensar pela própria cabeça e fazer uma avaliação justa. As coisas são como são! É verdade! Mas a ingratidão dói e magoa, quando é praticada, devido a uma memória curta ou desonesta.

Caro Cidadão, já vou longo neste meu texto, mas queria deixar só mais uma mensagem: Acredite, mas acredite mesmo, que estas reivindicações que os ENFERMEIROS PORTUGUESES fizeram e estão a fazer, é para a tentativa de melhorar a Carreira Profissional e as suas remunerações. Mas também, e isso é inequívoco, em defesa do SNS, de dotações seguras nos serviços e de mais Enfermeiros, para lhe podermos dedicar mais tempo a escutá-lo e a tratá-lo, mais tempo a dedicar, escutar e tratar a Sua Família e a melhor dar resposta às necessidades de Saúde, mas essencialmente na prevenção e na literacia em Saúde, na Escola, na Comunidade, no domicílio, nos internamentos. Ninguém, com isenção e conhecedor do que é a Saúde e no olhar holístico em torno da pessoa humana, será capaz de refutar estas verdades.

Permita-me, para terminar, fazer-lhe um pedido: Não admita ser mal tratado e mal cuidado. Exija cuidados de saúde excelentes, exija unidades de saúde condignas. Não admita falta de privacidade. Porque muitos dos seus impostos devem ser direccionados para o SNS e não injectados na banca falida, ou gastos em corrupção, nem em devaneios de viagens e gabinetes ministeriais e presidenciais.

Num país democrata, de uma europa evoluída não pode deixar de ter excelentes cuidados de saúde, uma justiça acessível, uma educação de qualidade e uma segurança social abrangente, de resposta real às necessidades que a população e em particular o Cidadão, tem direito, ou deveria ter direito.

Outros poderão falhar, mas os ENFERMEIROS PORTUGUESES estarão sempre consigo!

Humberto Domingues
Enf. Espec. Saúde Comunitária
2019.03.24 - 20h30

1 comentário:

  1. Muito bem. Lamentavelmente os governos e os governantes, não governam para resolver os problemas do país. Resolvem os problemas deles e dos seus familiares e amigos.

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