CARO CIDADÃO, HOJE ESCREVO PARA
SI, E A PENSAR EM SI!
Como tem sido
vastamente divulgado, debatido em diversos fóruns e assunto de inúmeras notícias
ao longo destes últimos anos, é claramente, o desinvestimento na Saúde e
particularmente, no Serviço Nacional de Saúde (SNS), que tem servido de “faca
de dois gumes” e arma de arremesso, conforme o poder político está na oposição
ou no Governo.
Este mesmo poder
político, quando está na oposição, acusa o Governo de desinvestimento, de
sacrificar o SNS, de demorar no pagamento a fornecedores e de maltratar os seus
quadros (Enfermeiros, Médicos, Técnicos Superiores de Diagnóstico e Terapêutica,
Psicólogos, Farmacêuticos, tec.). Quando vai para o poder, seja este “poder”
político de esquerda ou direita, rateia o financiamento do SNS, faz cativações e
sub-orçamenta em toda a linha. Relativamente aos Recursos Humanos atrás
descritos, congela carreiras, não reconhece progressões, direitos adquiridos e
força estes profissionais a excessos de horas de trabalho mal pagas e muitas
destas horas, nunca mais pagas.
Com certeza ouviu
falar, particularmente nos anos de 2017, 2018 e já em 2019 presenciou e
testemunhou as reivindicações que os ENFERMEIROS PORTUGUESES têm levado a
feito.
Com certeza
também, Caro Cidadão, tem uma opinião formada sobre todas estas questões que se
têm passado na Saúde e concretamente no SNS.
Com certeza, Caro
Cidadão, já esteve internado num hospital, ou já esteve a visitar algum
familiar ou amigo. Foi já ao Centro de Saúde receber cuidados de Enfermagem.
Provavelmente, já recebeu, ou testemunhou esta prestação de cuidados nas
unidades de saúde ou nos domicílios.
Os ENFERMEIROS
PORTUGUESES têm sido protagonistas de uma luta nunca antes desencadeada, contra
o Governo e o Poder Político, porque este não atende às suas reivindicações,
mas pior do que isso, não negoceia, insulta e desvirtua a realidade,
manipulando os acontecimentos e, depois, para a opinião pública, diz que
lamenta ainda não ter chegado a acordo com estes profissionais.
Os ENFERMEIROS
PORTUGUESES apesar de desencadearem formas de luta, umas mais “agressivas”, do
que outras, nunca faltaram com os seus cuidados aos Cidadãos, fosse no leito do
Hospital, fosse no Centro de Saúde, ou na visitação domiciliária para
tratamento, administração de medicação paliativa, ou outra. Estivemos sempre
presentes!
Mas nestas
manifestações e greves legais, recebemos muita incompreensão e insultos do
Governo e Poder Político e de Sua Excelência o Presidente da República. Até
aqui não estranhamos!
A Comunicação
Social, apesar de algumas excepções, debitou inverdades, e não procedeu ao
contraditório. Admiramo-nos disso, num país que se diz livre, e com uma
comunicação isenta, que deve ser, se não a maior, uma das maiores afirmações
das democracias consolidadas! Muitos artigos e declarações de opinião de
Enfermeiros, receberam o “lápis azul” e não foram publicados.
Mas a maior ingratidão
que sentimos, veio de si Caro Cidadão. Fomos “mimados” e apelidados com
insultos e perfídias. Chamaram-nos de oportunistas, que só pensávamos no
dinheiro, etc, etc, etc.
Hoje, passados
tantos momentos de luta, permitir-me-á perguntar-lhe:
- É admissível, um profissional formado (licenciatura) e altamente qualificado, não progredir na sua carreira, durante 12, 15 ou 17 anos?
- É admissível e aceitável, que os turnos nas unidades hospitalares e cuidados primários, sejam assegurados para a prestação dos cuidados de saúde, à custa de horas extraordinárias, porque de outra forma os serviços entram em rotura?
- É admissível e aceitável, que em determinados turnos, com 30 a 40 doentes, só haja 1 ou 2 Enfermeiros de serviço, para vigilância de sinais vitais, administração de medicação, posicionamentos, atendimento de pós-operatórios e situações agudas que se possam desencadear, e que poderão por em causa a vida dos doentes internados? Um destes doentes, poderá ser você, Caro Cidadão!
Durante as “Greve
Cirúrgicas 1 e 2” todos se queixaram de cirurgias adiadas, doentes que não
foram operados, por causa dos Enfermeiros em Greve. Alguém se queixou antes,
com a espera de dois, três e mais anos, para cirurgia? Alguém se queixou dos
muitos doentes que infelizmente faleceram, na espera dessas mesmas cirurgias,
muito antes das greves dos Enfermeiros? Têm a mesma acutilância nas críticas
para com outros profissionais, quando em greve, como tiveram com os ENFERMEIROS?
Caro cidadão,
sentimos ainda mais essa ingratidão que sobre nós ENFERMEIROS recaiu, porque
nós cuidamos de todos vós, com dedicação, com profissionalismo, com saber
científico e com princípios éticos e deontológicos. Lembramos, por exemplo que
quando se queixa de alguma dor, lhe administramos um analgésico, lhe colocamos
e tiramos as sondas que por ventura necessite, que o posicionamos no leito, com
regras e saber científico, para evitar úlceras de pressão, anquiloses e más
posturas, que lhe facultamos, dentro do possível e o que os serviços desfalcados
possuem, o melhor conforto. Alertamos e pedimos a colaboração de outros
profissionais, quando necessário. Escutamos os seus desesperos, as suas
confissões e angústias e muitas vezes, somos os fiéis depositários dos pedidos
de perdão para alguém, antes da “partida e viagem final”. Colhemos tantas vezes
as vossas lágrimas de tristeza, devido ao resultado de um diagnóstico, à
partida de um familiar, ou uma cirurgia que não correu bem. Mas também lágrimas
de alegria, porque entregamos nos vossos braços, o filho acabado de nascer, o
momento da alta hospitalar ou no domicílio, porque estão curados, reabilitados
ou em recuperação.
Somos nós
ENFERMEIROS, que ao toque da campainha, aparecemos junto a vós, 24 sob 24 horas.
Veem as nossas caras, apesar de exaustas, durante turnos e turnos, e não dez ou
quinze minutos ou uma única vez, no período inteiro, que estão internados.
Sei que é mais
fácil fazer juízos de valor e criticar, ainda que a partir de notícias
incompletas, comentadores tendenciosos, com falta de rigor e isenção, do que
pensar pela própria cabeça e fazer uma avaliação justa. As coisas são como são!
É verdade! Mas a ingratidão dói e magoa, quando é praticada, devido a uma
memória curta ou desonesta.
Caro Cidadão, já
vou longo neste meu texto, mas queria deixar só mais uma mensagem: Acredite,
mas acredite mesmo, que estas reivindicações que os ENFERMEIROS PORTUGUESES
fizeram e estão a fazer, é para a tentativa de melhorar a Carreira Profissional
e as suas remunerações. Mas também, e isso é inequívoco, em defesa do SNS, de
dotações seguras nos serviços e de mais Enfermeiros, para lhe podermos dedicar
mais tempo a escutá-lo e a tratá-lo, mais tempo a dedicar, escutar e tratar a
Sua Família e a melhor dar resposta às necessidades de Saúde, mas
essencialmente na prevenção e na literacia em Saúde, na Escola, na Comunidade,
no domicílio, nos internamentos. Ninguém, com isenção e conhecedor do que é a
Saúde e no olhar holístico em torno da pessoa humana, será capaz de refutar
estas verdades.
Permita-me, para
terminar, fazer-lhe um pedido: Não admita ser mal tratado e mal cuidado. Exija
cuidados de saúde excelentes, exija unidades de saúde condignas. Não admita
falta de privacidade. Porque muitos dos seus impostos devem ser direccionados
para o SNS e não injectados na banca falida, ou gastos em corrupção, nem em
devaneios de viagens e gabinetes ministeriais e presidenciais.
Num país
democrata, de uma europa evoluída não pode deixar de ter excelentes cuidados de
saúde, uma justiça acessível, uma educação de qualidade e uma segurança social
abrangente, de resposta real às necessidades que a população e em particular o
Cidadão, tem direito, ou deveria ter direito.
Outros poderão
falhar, mas os ENFERMEIROS PORTUGUESES estarão sempre consigo!
Humberto
Domingues
Enf. Espec. Saúde
Comunitária
2019.03.24 - 20h30
Muito bem. Lamentavelmente os governos e os governantes, não governam para resolver os problemas do país. Resolvem os problemas deles e dos seus familiares e amigos.
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