sexta-feira, 30 de junho de 2023

PEDROGÃO

PEDROGÃO




Pedrogão,

Uma palavra que hoje magoa e trás más memórias ao Povo Português. Faz-nos lembrar, também, outra tragédia da queda da ponte de Entre-os-Rios.

Pedrogão, porque foi num passado mais recente – 6 anos – está mais presente.

Ainda hoje, é doloroso, e vai continuar a ser, olhar para as imagens de memória de pessoas mortas pelo fogo, carros ardidos, casas afundadas, florestas destruídas e sonhos adiados.

Foi esta semana, depois de alguns desencontros políticos, que aconteceu uma cerimónia com o Sr. Presidente da República e Sr. Primeiro-Ministro, junto ao mural com os nomes das vítimas. Vítimas mortais!

Pedrogão podia ter sido uma oportunidade para o interior. E não foi! Uma oportunidade para a reflorestação, para o planeamento da floresta e daquele território. Mas não, tudo falhou! Pedrogão foi esquecido durante 6 anos!

A questão é esta, quando a política se intromete e porque são interesses do interior e não de Lisboa, tudo se adia! Tudo fica esquecido! Tudo é secundário! Até quando?

Sem retirar a importância e a memória por quem morreu, por quem perdeu os seus entes queridos, por quem ficou ferido ou sozinho, há outros “Predogãos” adiados e esquecidos, por esse país fora!

H. D.
2023.06.30

terça-feira, 27 de junho de 2023

PREVENÇÃO DE QUEIMADURAS SOLARES

PREVENÇÃO DE QUEIMADURAS SOLARES


O Verão já chegou e com ele, temperaturas muito altas. O Santo António festejou-se num misto de chuva e sol, o São João e São Pedro, com muito calor, o que levou as pessoas a exporem-se demasiado e abruptamente ao sol, na praia e esplanadas, provavelmente sem prévia preparação e a horas inapropriadas aos intensos e agressivos raios solares.


Todos nós nos expomos em demasia ao “Rei Sol”, correndo o risco de sofrermos uma queimadura dérmica. Assim, numa prespectiva de prevenção, pretendemos deixar nesta crónica, alguns ensinamentos sobre prevenção e protecção de “queimaduras solares”.



A nossa pele é o maior órgão do corpo humano. Este órgão é constituído por 3 camadas: a “Epiderme” de média espessura (face externa), a “Derme” de maior espessura, é a camada intermédia e a “Hipoderme”, é a camada de menor espessura e a mais profunda.


A nossa pele é um órgão sensível, protector e a primeira barreira às agressividades que sofremos, quer sejam através de radiações ambientais, químicas ou outras, nomeadamente, pela agressividade e traumatismo que as roupas, que diariamente usamos, nos provocam (costuras duras, roupas apertadas, muitos fios e fibras sintéticas), os detergentes e sabões que usamos quer na lavagem das roupas, quer na nossa higiene pessoal e por exposição ao Sol e poluentes. A pele é elástica, tem um brilho próprio e tem várias tonalidades, conforme a raça, a matriz genética, a geografia onde vivemos ou somos oriundos e a quantidade de melanina que cada indivíduo possui na sua constituição orgânica. Em média a pele mede +/- 2 m2 e pesa entre 4 e 9 Kg (claro está que, um bebé não possui tanta área corporal e por isso também mede e pesa menos. No inverso, uma pessoa obesa e com grande área corporal alcança limites superiores destes valores).

A pele precisa de ser bem hidratada para manter todas as suas características saudáveis e de protecção. Esta hidratação pode ser de forma “mecânica” por aplicação manual de cremes e líquidos hidratantes, ou de forma sistémica, com a ingestão de líquidos, principalmente de água e sumos naturais e o consumo de frutas e legumes variados.

Relativamente às radiações solares, estas são, em simultâneo, através de radiações de raios UV (ultravioletas), que se dividem em 3 tipos: A,B e C, conforme o seu comprimento de onda. Ora vejamos:

UVA – É o mais nocivo. Afecta a “Derme”. Penetra mais profundamente na pele, causa envelhecimento e pode provocar cancro da pele, alergias e manchas. Incide na nossa pele mesmo com chuva, névoa ou neve. 95% das radiações solares têm composição dos raios UVA.

UVB – Afecta a “Epiderme”. É o responsável pelos “vermelhões”, ardência e queimaduras solares. É mais intenso entre as 9 e as 16 horas. Penetra facilmente na pele e contribuem com 5% na composição das radiações.

UVC – São bloqueados pela camada de ozono e filtrados pela atmosfera terrestre.

Quanto ao Sol, sabemos sobejamente que é muito importante para a Saúde. Ele, “Rei Sol”, contribui para a síntese da vitamina D, fortalece os ossos e articulações, melhora o humor, cria condições e aumenta o bem estar das pessoas e ajuda a regular os ciclos do sono. Contudo, há algumas regras simples, mas importantes para nos prevenirmos da exposição solar, para que esta não seja nefasta, nomeadamente na praia. Quando a sombra é pequena, é sinal que o Sol está no seu ponto mais alto (a “pique”), por isso sinal de muita intensidade – Perigo. Quando a sombra é maior, sinal que o Sol já mudou a sua orientação, os raios solares já são oblíquos e por isso, menos perigoso. Há um “relógio solar” que deve ser utilizado: horas perigosas entre as 12 e as 16 horas; Perigo intermédio, entre as 11 e 12 horas e 16 e 17 horas. Horas apropriadas/ideais: antes das 11 horas e depois das 17 horas.

Nestes dias de praia e exposição solar, devemos considerar sempre o uso e aplicação de protector solar. Mesmo em dias nublados, deve ser aplicado, como atrás verificamos pela penetração dos raios solares. O protector solar deverá ser aplicado cerca de 30 minutos antes de sair de casa, aplicado no corpo todo e reaplicar de 2 em 2 horas. Reaplicar depois do banho ou de alguma actividade desenvolvida. O protector solar a aplicar, em cada pessoa, tem de ser de acordo com as características da nossa pele e das indicações do fabricante, sendo certo que para as crianças, deve ser sempre o protector com índice de protecção 50+ (cinquenta mais). Devemos ter particular atenção na aplicação no nariz e orelhas e deixar estas áreas bem protegidas. Merecem especial referência, as grávidas, quer na exposição solar, quer no uso de produtos e protectores solares. Outro factor a ter em atenção é o reflexo e a dispersão que os raios solares sofrem, quer na água, quer na areia, porque os raios UV dispersam-se desordenadamente.

Como sabemos que o SOL não tira férias, devemos apostar na protecção usando roupa simples, arejada e de preferência com o menor número possível de fibras sintéticas. O ideal é vestuário de algodão e de cores claras. Beber muitos líquidos, nomeadamente água e frutos naturais, comer fruta e legumes variados, usar óculos com protecção UV e guarda-sol, de preferência com material reflector ou de duplo tecto. Dedicar especial atenção, quer nas ondas de calor, quer nos períodos de maior intensidade, às crianças, grávidas e idosos.

A prevenção e o conhecimento são sempre armas que devemos ter à mão e fazer uso deles. Tenham umas boas férias, mas protejam-se, porque o Sol não tira férias e as lesões cutâneas são muito dolorosas e podem desenvolver problemas /doenças oncológicas.

Divirtam-se, com prevenção!

Humberto Domingues
Enf. Espec. Saúde Comunitária
2023.06.27

quarta-feira, 14 de junho de 2023

OUTRO VERÃO A DESAFIAR O SNS

OUTRO VERÃO A DESAFIAR O SNS


Chegou já o novo período de férias de Verão, neste nosso lindo País, de seu nome Portugal, que tem uma das mais importantes conquistas do 25 de Abril, vivida nesta jovem democracia e em liberdade – O Serviço Nacional de Saúde (SNS).


O SNS evoluiu, aprimorou-se, modernizou-se, atingiu um patamar de excelência. Sofreu as dores do crescimento, instalando-se nas pequenas vilas e aldeias, onde as consultas do “Médico da Caixa” e os curativos e injecções dos Enfermeiros, foram evoluindo, dando lugar ao trabalho por equipas, por módulos, por lista de Médico de família, por lista geográfica de Enfermeiro de família, etc. nos novos ou renovados Centros de Saúde, até à nova filosofia das unidades funcionais: USF, UCSP e UCC integrando as ECCI. Nos cuidados secundários ou hospitalares, a evolução também foi enorme. Desde a qualidade das instalações, ao conhecimento científico das equipas multiprofissionais (conhecimento este, também nos Cuidados de Saúde Primários) e intervenção precoce no tratamento de todas as doenças, particularmente, as oncológicas. Tecnologia de ponta no auxílio do diagnóstico. Muito poderíamos escrever sobre esta realidade e evolução, mas não é essa a linha de pensamento desta crónica.

Ao longo destes tempos que correram até hoje, a política apoderou-se do SNS e, quando os políticos se aperceberam que tinham aqui terreno fértil para desbravar e se instalarem e colocar os seus “boys e girls”, começou a degradação do SNS. Também o corporativismo e os intocáveis de algumas classes profissionais, contribuíram para essa degradação e dificuldade de resposta em tempo. É certo que a procura de resposta, a pressão, o surgimento de novas e complexas patologias e o acesso/uso/democratização do SNS, também contribuíram para estas dificuldades. À custa da falta de resposta e também de complemento do SNS, para um Sistema de Saúde, o sector privado foi o que maior crescimento registou, desafiando os profissionais do público a transitarem para este, com melhores salários, regalias e condições de trabalho, que se vem degradando no SNS.

Chegados a Junho/2023, com o Verão a “bater à porta” e período de férias por excelência com a mobilidade de população para o litoral, novo desafio e dificuldades se colocam ao SNS. E isto, de certa maneira, porquê?


· Porque o Ministro mudou, mas nenhuma alteração de fundo, estrutural e política de saúde foi implementada;

· A Direcção Executiva foi constituída, tomou posse, mas ainda não possui estatutos/regulamentação, aprovada pelo Governo, que efectivamente defina a sua actuação. Em boa verdade, também nem um ano tem de exercício;

· As urgências continuam sob uma pressão permanente, porque não se implementaram estímulos, condições e reformas nos CSP, para que tal deixasse de acontecer e houvesse alternativa aos SU. As longas horas de espera no SU vão acontecer/manter-se e continuar;

· Os blocos de partos e maternidades, algumas urgências de especialidades, etc., continuam a encerrar alternadamente, devido às escalas e falta de profissionais para assegurarem o seu funcionamento, apesar do Ministro ter mudado;

· A carência e falta de Profissionais, nomeadamente Enfermeiros e Médicos é uma realidade assustadora. Os serviços estão no limite, dotações seguras por respeitar conforme as Ordens Profissionais tem afirmado, pedidos de escusa de responsabilidade de Enfermeiros e Médicos, demissões seguidas de directores de serviço, para além do cansaço e burnout, que se vem apoderando dos Profissionais e Equipas de saúde, com os Enfermeiros à cabeça.

Muito mais poderíamos escrever sobre estas lacunas.

O que se está a viver, é a consequência da má gestão, das cativações orçamentais absurdas e da não contratualização, de forma estável, e por falta de carreiras justas, cativantes e bem remuneradas, para todos os Profissionais de Saúde, que assim vão para o privado e emigram. Estas medidas castradoras têm impacto negativo nos serviços ao longo dos anos e dificultam as respostas às necessidades que os Cidadãos colocam ao SNS. As populações envelhecidas, a maior esperança de vida, as comorbilidades desta mesma população, o aparecimento de doenças novas e outras que se diagnosticam precocemente, e por isso necessitam de mais consultas, de mais cirurgias, de mais cuidados de enfermagem, implicam o aumento de trabalho, quer nos hospitais, quer nos CSP, nos atendimentos e tratamentos domiciliários, Se para um volume de trabalho aumentado, os Profissionais são os mesmos ou menos, é claro que o sistema está desequilibrado e, por isso, a resposta vai ser mais demorada, que só por esse facto, já vai ter implicações na saúde dos Cidadãos.

Na tentativa de tapar o sol com a peneira, temos a retórica política! Tudo parece que se vai resolver no dia seguinte, ou na próxima segunda-feira, como dizia o Dr. António Costa. O que é certo, é que, o descontentamento permanece na Classe de Enfermagem, porque o Governo ainda não foi capaz de uniformizar a resposta, de forma séria e justa, a atribuição dos pontos e contagem de tempo, com implicação na avaliação de desempenho, estabelecido pelo D.L. 80-B/2022. Apesar do Sr. Ministro Manuel Pizarro propagandear, à boa maneira socialista, a resolução rápida deste problema e a disponibilidade para a negociação da melhoria da Carreira de Enfermagem, ainda não encetou essas negociações e diligências. Os Médicos também estão descontentes e ameaçam com greves. Os Técnicos Superiores de Diagnóstico e Terapêutica estão insatisfeitos com a falta de cumprimento de promessas socialistas e ameaçam com greves. Perante todo este cenário, com hospitais a despedirem Enfermeiros, em vez de os contratar. Escalas de serviço deficitárias. Sobrecarga de trabalho e recurso abusivo às horas extraordinárias, deixam os Profissionais exaustos. Com as férias a chegar em que a população flutuante triplica ou quadruplica em muitos casos, vai efectivamente ser outro Verão a desafiar a capacidade de resposta do SNS. Precisamos que nasçam crianças em Portugal. Seria bom que nascessem onde os seus pais desejam e que as grávidas não se vissem obrigadas a fazer 100 ou 200 kms para dar à luz, pondo em risco a vida da mãe e do bebé.

Pede-se ao Sr. Ministro da Saúde menos retórica, mais acção e cumprimento efectivo e atempado das promessas e compromissos com os Enfermeiros. Planeamento sério, para as necessidades e respostas às populações e não encerramento de serviços.

Os Profissionais cumprirão com ética e deontologia as suas obrigações. Espera-se que o Sr. Ministro Manuel Pizarro e o Governo façam o mesmo, para bem do SNS, dos Profissionais e dos Cidadãos doentes que a ele recorrem.

Humberto Domingues
Enf. Espec. Saúde Comunitária
2023.06.14

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