terça-feira, 1 de dezembro de 2020

Carta aberta à Sra. Bastonária da Ordem dos Farmacêuticos, Dra. Ana Paula Martins

 Carta aberta à Sra. Bastonária da Ordem dos Farmacêuticos, Dra. Ana Paula Martins

Cortesia: Ordem dos Enfermeiros

Transcrevo para o meu blog, com conhecimento e autorização do Autor-Sr. Enf. Fernando Dias- a carta aberta que dirige à Srª. Bastonária da Ordem dos Farmacêuticos.
A razão de aqui a publicar, prende-se com o facto de estar de acordo com o texto, ser de uma qualidade e assertividade tremenda e pelo facto de ser Enfermeiro, também. De seguida vos deixo o excelente texto.

"Carta aberta à Sra Bastonária da Ordem dos Farmacêuticos, Dra Ana Paula Martins
AS FARMÁCIAS NÃO SÃO, NEM NUNCA SERÃO, UM LOCAL SEGURO PARA ADMINISTRAÇÃO DE VACINAS OU DE QUALQUER OUTRO MEDICAMENTO
Sra Bastonária da Ordem dos Farmacêuticos,
Um pouco mais de humildade no discurso é o mínimo que se pode esperar, enquanto representante supremo da sua profissão.
De nada adianta espernear para defender o negócio das farmácias.
Uma farmácia não é, nem nunca será um lugar seguro, seja para administração de vacinas, seja para administração de um qualquer outro medicamento injectável.
Diz a sra Bastonária que estuda muito e que a classe dos Farmacêuticos faz muita formação. Ainda bem. Já tenho algumas dúvidas quanto a igualarem os Enfermeiros neste particular.
Afirma, também, que eventuais emergências, que aconteçam na sequência da administração de uma vacina, são tratadas como as outras. Não são. E não são por dois motivos, se outros não existirem, porque existem.
Senão vejamos, perante uma reacção anafilática, ainda que as farmácias disponham dos meios, nomeadamente de medicamentos, para obstar a que o pior aconteça, nem a sra Bastonária nem nenhum qualquer farmacêutico está apto a actuar. Em primeiro lugar, porque não pode prescrever medicamentos, só um médico o pode fazer. Actuar em sentido inverso, prescrevendo um qualquer medicamento, ou administrando-o, configura a prática do crime de usurpação de funções, previsto e punido pelo artigo 358° do Código Penal Português. E se, de tal actuação, resultarem danos para a integridade física do utente, parece não existirem dúvidas quanto estarmos perante a prática de um dos crimes previstos nos artigos 143° e seguintes, ainda do Código Penal Português.Depois, porque nenhum farmacêutico, mas nenhum mesmo, tem a perícia que a situação exige para ter um acesso venoso em segundos. Muito menos para fazer uma intubacão orotraquel que garanta a permeabilidade da via aérea.
Ligar para o 112, e esperar por este meio de socorro, não é a melhor solução para o utente crítico já que nunca chegará a tempo de evitar a morte, se entretanto não forem tomadas medidas que não se compadecem com a espera.
Quando afirma que alguns utentes preferem que lhes seja administrada a vacina numa farmácia, o que a Sra Bastonária tem que dizer aos portugueses é que esses mesmos utentes não são informados acerca dos riscos e de possíveis reacções adversas.
Chama-se consentimento informado. E não adianta de nada invocar o artigo 149° do CP, que se refere ao consentimento, já que só pode enterder-se que existe consentimento, quando esse mesmo consentimento se configurar como consentimento livre e esclarecido.
Duvido é que esses mesmos utentes, se devidamente esclarecidos quanto aos riscos, continuem a preferir esse local para a administração da vacina ou de qualquer outro medicamento, consentindo na prática do acto pelo farmacêutico ou, o que é o mesmo, por outro que não seja enfermeiro ou médico.
Sra Bastonária da Ordem dos Farmacêuticos, nesta questão da administração de terapêutica nas farmácias, nomeadamente vacinas, há uma realidade que separa a classe que a Sra superiormente representa e aquela a que eu orgulhosamente pertenço. A sua abordagem, sra Bastonária, é uma abordagem mercantilista, de defesa do negócio e do lucro das farmácias, a nossa, enquanto enfermeiros, e que no fundo é também a da Bastonária da nossa Ordem Profissional,
Ana Rita Pedroso Cavaco
, é uma abordagem pela segurança do utente.
É isto que nos distingue.
Fernando Dias, Enfermeiro"

Sr. Enf. Fernando Dias, o meu aplauso e o meu muito obrigado pelo texto magnífico, desta carta aberta.

Apenas e só, retrata e reflecte a realidade.
Com sua licença partilho aqui no meu blog de Enfermagem nas Letras.
Muito grato pela qualidade e clareza deste texto.
Humberto Domingues
Enf. Espec. Saúde Comunitária
2020.12.01

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