quarta-feira, 26 de junho de 2024

A AGRESSIVIDADE DA SINISTRALIDADE RODOVIÁRIA

A AGRESSIVIDADE DA SINISTRALIDADE RODOVIÁRIA


Entramos no Verão, onde por norma, o trânsito nas nossas estradas aumenta, por várias razões, mas essencialmente, pela chegada e circulação de turistas e emigrantes.
 

As estradas/vias de comunicação e povoações mais pacatas assistem ao aumento de trânsito, e inversamente o sossego diminuiu e o estacionamento não chega para tantos automóveis.

Se nas grandes cidades se sente uma “acalmia” no trânsito diário, devido às férias escolares e às férias dos agregados familiares, que vão para outros espaços e territórios passar férias – província, estrangeiro, etc. - o inverso sente-se no interior que “absorve” a chegada de tanta gente. Nas vilas e cidades junto à costa atlântica e que possuem afamadas praias de “bandeira azul”, sentem a “invasão” de pessoas e viaturas, alterando o seu pacato quotidiano.

No passado havia uma dificuldade de circulação, porque a infraestrutura rodoviária era limitada e limitante e oferecia inúmeros perigos. Por outro lado, os carros eram mais raros e considerados “artigos de luxo”. Paulatinamente foi-se transformando numa ferramenta de trabalho imprescindível, um “utensílio” mais social e com facilidade, veio a moda de financiamento bancário para a sua aquisição, como bem de consumo em que se tornou na Sociedade e isso, fez disparar o número de viaturas por agregado familiar. Entretanto a crise dos combustíveis e a alteração de preços, também teve implicações grandes nos orçamentos familiares e no sustento de um ou mais carros por Família.

A indústria automóvel deu um salto colossal. Os níveis e mecanismos de segurança colocados/instalados nas viaturas são imensos, que asseguram medidas excepcionais de segurança, quer activa, quer passiva, onde a prevenção de acidentes é o objectivo major a alcançar. Toda esta evolução da engenharia, trouxe melhores combustíveis e mais velocidade aos carros, possibilitando percorrer maiores distâncias em menor espaço de tempo. As auto-estradas vieram ajudar, o que dantes era longe, a tornar-se, mais perto.

Da consulta que fizemos na página da “Prevenção Rodoviária Portuguesa” (PRP), entre os anos de 2010 e 2022, colhemos alguns dados interessantes. Fizemos algumas comparações com os dados possíveis cujo registo de sinistralidade 24 horas (“vitima mortal 24 horas - vítima cujo óbito ocorra no local do acidente ou durante o percurso até à unidade de saúde”) e sinistralidade 30 dias (“vítima mortal 30 dias – vítima cujo óbito ocorra no período de 30 dias após o acidente”), registaram-se em 2010, 937 vítimas mortais em 30 dias e 741 vítimas mortais nas 24 horas. Em 2022, 591 vítimas mortais em 30 dias e 462 vítimas nas 24 horas. Consultando a “Pordata” nestes mesmos anos, verificamos que em 2010 ocorreram 35.426 acidentes com vítimas e 46.561 feridos e, em 2022 ocorreram 32.788 acidentes com vítimas e 40.699 feridos. Num cálculo de proporção directa, registaram-se em 2022, menos 7,44% de acidentes e menos 12,58% de feridos, do que em 2010. Verificamos também que em 2010 o número de carros que circulavam eram de 584,7/1000 habitantes, enquanto que, em 2022 eram 689,3/1000 habitantes.

A sinistralidade continua, mesmo assim, a ser alta. Na verdade tem-se investido em campanhas de informação e prevenção. Mas será o suficiente? Não será de considerar uma intervenção programática e continua, obrigatória, nos ciclos de ensino?

Inúmeros indicadores e questões sociais, sociológicas ou de engenharia se poderiam aqui levantar. Mas não é a razão desta crónica. Apenas, fazer uma reflexão sobre a importância da prevenção.

Apesar de todas as normas de segurança, leis e código da estrada, medidas preventivas, radares, etc., quando acontece algum acidente e há vítimas a lamentar, são inúmeros os prejuízos daí decorrentes. As vítimas mortais partem, deixando saudade e muita dor aos familiares e amigos, que vão sentir a sua falta. Mas os feridos, que muitas vezes resistem a ferimentos graves e mutilações, passam a enfrentar um longo calvário de recuperação e eventualmente a reinserção na vida activa, quando isso é possível.

As pessoas ficam feridas, com maior ou menor gravidade, levando muitas das vezes, devido a fracturas ósseas ou de órgãos, a longos períodos de internamento. Em muitos casos, com cirurgias sucessivas, para correcção orgânica, reconstrução, reposição de tecidos, e finalmente, quando é adequado, a reconstrução estética.

As pessoas ficam dependentes de outras para ajuda nas suas actividades fisiológicas e de vida diária. Muitas ficam com lesões ósseas, de função e tecidulares, para o resto da vida. Amputações a vários níveis. Enfim, sequelas que jamais se apagarão fisicamente, para não falar nas psicológicas e emocionais. Em alguns casos, familiares directos, têm que abdicar dos seus empregos para tratar dos sinistrados.

Estamos num período do ano, onde a realização de festas, férias, concertos de verão e encontros de familiares e amigos, convidam a mais bebida alcoólica, mais euforia, muitas vezes associado o consumo de substâncias psicoativas, que vão toldando os reflexos, diminuindo a atenção e a capacidade de acção ou reacção na condução. É certo que em muitas vias, o piso está muito degradado, não há marcações no piso e a sinalética vertical está encoberta, destruída ou desajustada. Muitas vezes também, não se cumprem os limites de velocidade. A acomodação de bagagem não é feita com equilíbrio e pode estar a comprometer a visibilidade ao condutor, criando “ângulos mortos ou invisíveis”. Em potencial, há condições para acontecer acidentes! Acautelemos a prevenção!

Perante tudo o descrito e muito mais que ficou por escrever, mas que todos estamos ou passamos a estar despertos, lembrar que a prevenção é a mais simples e potente forma de evitar problemas e acidentes. Avalie com antecedência o estado dos pneus da viatura ou motocicleta. As condições de travagem. Cumpra as regras de trânsito. Não propicie nem entre em conflitos desnecessários e fúteis, relegando para segundo plano as provocações e desafios das “corridas e picardias”. Pense que o que importa é chegar ao seu destino com segurança, para poder abraçar os seus entes queridos, poder desfrutar da festa ou do concerto para onde vai, ou simplesmente, na companhia que escolheu, poder saborear esse momento sem sustos nem desgostos de acidentes, ou confrontos. A vida é bela quando vivida sem tristezas!

Um acidente causa sempre um prejuízo significativo com “custos humanos, económicos e sociais à Sociedade”. Os danos que as vítimas sofrem, são de difícil quantificação, apesar de existirem tabelas convencionadas. A perda de um familiar ou um amigo, é um vazio que será difícil de preencher. O sentimento de culpa, por um acidente ou morte de uma dessas pessoas, tem um “peso emocional”, que muitas vezes acompanha a vida inteira. Não aceite ser protagonista nem carregar esse fardo, de remorsos e de culpa.

Seja prudente. Desfrute das viagens em segurança, desfrute do convívio com familiares e amigos e não se atreva a perder ou fazer perder a vida num minuto.

Humberto Domingues
Enf. Espec. Saúde Comunitária
2024.06.26

sexta-feira, 21 de junho de 2024

ELEIÇÕES INTERCALARES PARA NOVOS ÓRGÃOS DA ORDEM DOS ENFERMEIROS

ELEIÇÕES INTERCALARES PARA NOVOS ÓRGÃOS DA ORDEM DOS ENFERMEIROS

CONSELHO NACIONAL DE ENFERMEIROS

CONSELHO DE SUPERVISÃO


Link convocatória

Vão decorrer a 12 de Julho as Eleições Intercalares para novos Órgãos Nacionais da Ordem dos Enfermeiros, para eleição do "Conselho Nacional de Enfermeiros e Conselho Supervisão", decorrente das alterações dos Estatutos das Ordens Profissionais, impostas pelo anterior governo e aprovadas na Assembleia da República.

Link regulamento eleitoral

Link designação acto eleitoral

Link comissão eleitoral


Humberto Domingues
Enf. Espec. Saúde Comunitária
2024.06.21

quinta-feira, 13 de junho de 2024

NÃO À VIOLÊNCIA CONTRA A PESSOA IDOSA

NÃO À VIOLÊNCIA CONTRA A PESSOA IDOSA


Assinala-se a 15 de Junho o “Dia Mundial da Consciencialização da Violência Contra a Pessoa Idosa”. Este dia era bem dispensável de se assinalar. Mas infelizmente, não é o caso, porque a violência é uma realidade!


Acontecem muitas formas de violência sobre a Pessoa Idosa. Umas no seio da própria Família, outras nas Instituições públicas, privadas e sociais e outras ainda, na Sociedade anónima pública com contornos e formas agressivas e desumanas.


Foi em 2006, que as Nações Unidas criaram e assinalaram esta data, com a “Rede Internacional de Prevenção à Violência Contra a Pessoa Idosa”, concebendo assim, uma reflexão profunda com dimensão social sensível, com o objectivo de acabar com esta violência. Percebemos esta problemática e atribuímos-lhe uma grande importância, conhecendo muitas destas questões, assentes em causas com inúmeras variáveis e que são observáveis em Saúde Comunitária ou vivência Comunitária, praticadas através de agressões, conflitos e até homicídios.

Sabemos que as Sociedades de hoje se apresentam e tendem a ser mais envelhecidas. Estima-se que no Mundo, em 2025, possam haver 1,2 mil milhões de pessoas com mais de 60 anos. Este número representa uma População de faixa etária muito grande e importante na vida das nações e do mundo.
Em Portugal, com base nos indicadores que colhemos do “INE” e da “PORDATA”, em 2022 éramos 10.444.242 habitantes sendo que, 24% destes tinham 65 anos ou mais. Comparando com o número de habitantes em 1974, que eram 8.754.365 e, com 65 ou mais anos, representavam 10% deste universo, concluímos que a População/País mudou de perfil e está mais velha. Em 2022 apenas 13% dos habitantes tem de 0 a 14 anos, enquanto que em 1974 representavam 28%. E dos 15 aos 64 anos, em 2022, eram 63%, e em 1974, representavam 62% da População. Há aqui efectivamente alterações que têm implicações directas nas questões demográficas e da População activa, na Segurança Social, seu financiamento e sustentabilidade, nas despesas da Saúde e no que já descrevemos, o “envelhecimento da Nação”. A pirâmide etária começa a ter características cilíndricas e não, piramidal. Preocupante!

Perante estes indicadores precisamos mesmo de reflectir sobre a importância e protecção da “Pessoa Idosa” na nossa Sociedade. Através de inúmeros relatos, investigação, queixas e registos, concluímos que os idosos são/estão sujeitos muitas vezes a maus-tratos físicos e psicológicos, esquecidos, diminuídos, ignorados e humilhados, quer nas Famílias, quer nas Instituições. A função emocional fica profundamente abalada.

É doloroso ouvir muitos relatos que conhecemos, uns veiculados nos órgãos de Comunicação Social, mas outros (muitos) quando fazemos visitação domiciliária ou quando recorrem às urgências ou internamentos.

Para além das agressões físicas e verbais, é preciso também, perceber e ter em conta que é violência sobre os Idosos:

· Quando estão deitados/acomodados nos seus domicílios, em quartos sem janelas, nem luz solar, onde prevalece a humidade e o “cheiro a mofo”, com a roupa da cama pesadíssima e longas semanas, sem mudar cobertores, com colchões de qualidade sofrível;

  • É também, nas inúmeras e longas horas de espera nas urgências, para serem atendidos. Uma violência para todos, mas particularmente para os idosos, depois de horas de tratamento, pelos Enfermeiros e Médicos, permanecerem deitados em macas “abandonadas” durante muito tempo, nos corredores superlotados, sem transitarem para uma cama hospitalar ou de qualquer instituição de retaguarda, estando a sua privacidade e intimidade exposta a terceiros; 
  • É violência quando sofrem de desnutrição, ao não lhes ser proporcionada uma alimentação digna, uma nutrição equilibrada e não lhes serem proporcionados também, alimentos que gostem; 
  • É violência, despersonaliza-los e retirar-lhes os seus pertences, os seus bens, os objectos que representam valor afectivo, emocional ou de crenças. 
  • É “penteá-los” a todos com a mesma forma, padronizando, com risca à dtª. ou à esqdª. É vestir-lhes roupa desajustada às dimensões e talhas do seu corpo. É tratá-los por “Avô ou Avozinha”, quando não há nenhum laço de familiaridade, “retirando-lhes” o nome pelo qual sempre foram tratados e são conhecidos; 
  • É desviar todos os rendimentos de reformas e/ou outros proventos, não os deixando administrar/gerir os seus próprios recursos, quando lúcidos e capazes; 
  • É querer que estas Pessoas caminhem, façam actividades físicas ou intelectuais, ao mesmo ritmo, como quando eram jovens, ou tinham menos 20, 30 ou 40 anos. O corpo, a mobilidade e a actividade intelectual, está mais lenta e limitada; 
  • É tirar-lhes o direito de pensamento, de opinião e de decisão. É retirar-lhes o direito de lazer, de visitar espaços e lugares e de receber a visita dos netos ou de outros Familiares. É privá-los de afecto, de carinho e de amor; 
  • E, por necessidade, terem que optar, entre os medicamentos a pagar na Farmácia, ou alimentos para as suas refeições;
E não será violência, quando verificamos que os cuidados de saúde não são prestados por Profissionais, nomeadamente Enfermeiros, como o constatado e indesmentível, aquando da “Pandemia”, em muitos lares/centros de dia e ERPIs (Estrutura Residencial para Pessoas Idosas)?

E não será violência, também, quando intencionalmente, se usa linguagem de difícil percepção, limitada, não clara e muitas vezes não verdadeira, dirigida aos Idosos?

Um sem número de exemplos e factos poderiam ser descritos aqui. Se por um lado é um fenómeno em crescendo, é também um fenómeno invisível e desvalorizado, em muitas situações.

Hoje, vive-se mais anos (H-78,05 anos; M-83,52 anos), é verdade. Mas importa perguntar, com que qualidade de vida? Como se afirma em congressos e fóruns de saúde, não basta trazer “mais anos à vida”, mas sim, “mais vida aos anos”.

Os Idosos são bibliotecas valiosíssimas, cheios de saber, experiência, sacrifícios que fizeram para assegurar melhores condições para as Famílias e para o crescimento de uma Nação. Nesta fase das suas vidas, é altura de todos nós os respeitarmos e de retribuir o seu legado. De perceber que um corpo, com muitos anos de vida e de sacrifícios tem “desgaste” e por isso, comorbilidades, umas mais limitantes, outras menos. Mas independentemente desses graus de dependência e do seu extracto social, merecem o respeito e toda a dignidade nesta fase das suas vidas.

Seremos todos capazes de fazer parar a violência contra a Pessoa Idosa e de denunciar casos que conheçamos?

O desafio é grande, mas qualquer Pessoa Idosa, merece dignidade e respeito de Todos em qualquer sítio ou lugar. Pratiquemos a humanização e o respeito!

Humberto Domingues
Enf. Espec. Saúde Comunitária
2024.06.13


POBREZA ENVERGONHADA

POBREZA ENVERGONHADA Não é fácil escrever, nem fazer uma reflexão sobre este tema, sem que coloquemos a questão: E se fosse eu? E se fosse...