quinta-feira, 9 de março de 2023

A DEGRADAÇÃO DA VIDA NOS LARES

A DEGRADAÇÃO DA VIDA NOS LARES


Nos últimos tempos/anos tem sido uma constante, notícias e acontecimentos a vir a público, sobre situações de vida degradante, em lares, uns clandestinos, outros oficiais/legais, mas onde a suprema forma de tratar e do cuidar, falham em toda a linha. Como em tudo, há excepções.

Esta semana foi na Lourinhã, com a divulgação de imagens e testemunhos assustadores e impróprios para um lar, onde supostamente, se deveria cuidar com toda a dignidade a Pessoa Humana e neste caso, Idosos.

Sabemos há muito tempo que faltam respostas dignas de retaguarda para acolher pessoas idosas que não têm condições para viver nas suas casas, nem dos familiares. Com esta realidade vão-se “arranjando soluções” transitórias, ilegais, que se tornam definitivas. Depois vem a realidade, que são a falta de recursos técnicos, de habitabilidade das instalações e recursos humanos que possam dar resposta às carências e necessidades dos utentes idosos.

Muitos destes lares, não têm em permanência Enfermeiros para a prestação de cuidados de saúde e de enfermagem, no acompanhamento dos idosos e principalmente dos doentes e acamados.

Se ao longo de todo o ciclo vital do ser humano, há a necessidade de vigilância e adequação da alimentação, conforme as necessidades e o consumo energético/calorias, esta vigilância deve ser aumentada em idosos, muitos deles acamados, com comorbilidades. Nos idosos acamados a vigilância e os cuidados devem ser redobrados, desde a qualidade da cama e colchão, ao peso das roupas/cobertores, aquecimento/temperatura do quarto, posicionamentos no leito e com particular relevo, a alimentação e a conjugação com suplementos proteicos e vitamínicos, para não surgirem e retardar ao máximo o aparecimento de úlceras de pressão, que degradam a qualidade de vida destes Cidadãos Idosos.

Por tudo isto, a “diária” nos lares e ERPIs não são baratas. Por isso, tem que haver um corpo técnico capaz da gestão e da prestação de cuidados de saúde, entre outros, à altura das exigências.

Sempre que estes casos chegam à Comunicação Social, é um alvoroço! A triste realidade tornou-se mais visível, aquando da “pandemia Covid”. Mas depois, pareceu que nada mais se passou, até ao surgimento de novos casos.

Interessa lembrar que para os Enfermeiros esta realidade não é nova nem cria surpresa, uma vez que, desde 2016, a Ordem dos Enfermeiros vem alertando as autoridades e tomando posição, por forma de alerta e preventiva sobre tantos lares e a própria tipologia e classificação dos mesmos. Inúmeros documentos foram elaborados em tempo e enviados aos Ministérios da Saúde e do Trabalho e Segurança Social. Que atenções mereceram do Governo estes relatórios e documentos?

Portugal está num processo de pirâmide etária, invertida (população envelhecida). Uma preocupação de hoje, mas muito maior amanhã. É importante, necessário e urgente, criar políticas direcionadas à resolução dos problemas dos idosos. Requer estudo, trabalho, mas essencialmente, respostas adequadas e avaliação, se os lares têm condições para acolher todos os idosos com as diferentes patologias, limitações, comorbilidades e estadios que apresentam. Parece-nos importante repensar bem a rede de “Cuidados Continuados” e as integrações necessárias de alguns lares nesta rede.

Noutra dimensão, muitos idosos estão doentes e precisam de cuidados de saúde, principalmente de Enfermagem e nos lares onde estão internados, não têm capacidade de resposta a este nível, nem presença 24/24 horas. Urge intervir!

Os Idosos merecem ser tratados com dignidade, com respeito e não pode haver lugar à falta de carinho, conforto e de amor.

Humberto Domingues
Enf. Espec. Saúde Comunitária
2023.03.09

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