O
VALOR DAS PALAVRAS E DAS ATITUDES
As palavras têm um valor
próprio e adequado às circunstâncias. Por isso o uso indevido e de forma
corrente de expressões e palavras, tira-lhes importância, significado e
desgastam o seu conteúdo.
É precisamente o que tem
acontecido nestes momentos da “Pandemia” e a mutilação que temos sofrido pelo
“SARS-CoV-2 – COVID-19”. No início de toda esta “convulsão”, a Sociedade Civil
começou com manifestações de aplausos e de apoio, desde as varandas de casas e
prédios, a aplausos nas filas dos Super e Hipermercados, quando surgia um
Profissional de Saúde. Acreditamos que estas manifestações tenham sido
sentidas. Alguns articulistas da Imprensa diária e mesmo semanal, têm apreciado
o esforço dos Profissionais de Saúde, nas difíceis situações em que actuam,
tratando e cuidando os doentes, e neste particular, agora, os doentes e
infectados com COVID-19. Alguns Profissionais de Saúde, entre os quais muitos
Enfermeiros, ficaram infectados e adoeceram também, decorrente da exposição que
sofreram por inerência das suas funções.
Por outro lado, quem tem
raramente usado palavras de apoio, de incentivo e de reconhecimento, tem sido a
Srª. Ministra da Saúde e o Sr. Primeiro Ministro. E mesmo quando usam estas
palavras, elas estão tingidas de demagogia, cinismo e aproveitamento político.
Para além das palavras “ocas e vans”, as atitudes que são tomadas, confirmam
ainda mais esta pobreza, desadequação e futilidade.
A confirmar o que dizemos, está
a triste realidade, apresentada pela Srª. Ministra da Saúde, há umas semanas
atrás, ao propor-se contratar Enfermeiros, em contratos de quatro meses, a
6,42€/hora. E a demonstração de falta de respeito por esta Classe, que tal como
no passado, continua a dar muito de si ao SNS. Os Enfermeiros são técnicos
altamente qualificados e não podem nem devem ser contratados a “preço de
saldo”, para tratar e cuidar de doentes, particularmente num momento muito
difícil, contagioso e agressivo, devido à “Pandemia SARS-CoV-2 (COVID-19)”.
Este valor monetário de contratualização, confirmam a falta de estímulo, para
encabeçar na primeira linha o combate à “Pandemia”.
Apesar deste momento crítico,
em termos de Saúde Pública, o Governo e o Ministério da Saúde não se
envergonham de tamanho disparate e ingratidão em contratar Enfermeiros por este
valor? É humilhante o papel em que se coloca o Governo e o Ministério da Saúde
na forma indigna e despropositada que, com leviandade procura contratar
Enfermeiros nestas condições. A quem chamam “heróis”, podem-se contratar a 6,42€/hora?
Que agressão, indignidade e desvalorização, pelo trabalho dos Enfermeiros!
No “Dia Internacional do
Enfermeiro”, a Srª. Ministra da Saúde disse, expressamente: “Reconheço que as
aspirações da Profissão de Enfermagem são muitas, têm colhimento da maioria da
população e será necessário um grande esforço da parte de todos nós, para
conseguirmos construir soluções que permitam responder-lhe nos tempos que aí
vêm.”
Mais uma vez, estas palavras
não são confiáveis, porque:
1- Esta
mensagem é de circunstância, face à data comemorativa e mal lhe ficaria se não
a fizesse no “Dia Internacional do Enfermeiro”
2- Na linguagem não verbal,
expressa bem a contradição entre o que pensa e o que verbaliza;
3- O constrangimento é grande e
claro por ter que se dirigir aos Enfermeiros, nunca referindo a Ordem dos
Enfermeiros nem o nome da Srª. Bastonária;
4- Sabemos
qual foi o passado da Srª. Ministra da Saúde a tratar e resolver os problemas
dos Enfermeiros;
Nestes últimos dias, mais uma
pérola deste Ministério da Saúde, através do Sr. Secretário de Estado, Dr.
António Sales, afirmando categoricamente que os Profissionais de Saúde tinham
sido todos testados ao “COVID-19”, sempre que estiveram em contacto com algum
doente. Afirmação esta que foi desmentida pela Ordem dos Enfermeiros e dos
Médicos.
Infelizmente, usando a
“Pandemia COVID-19”, o Governo e Sr. Presidente da República têm feito política
a olhar para os calendários eleitorais e lugares na Europa, usando o esforço,
dedicação e altruísmo dos Profissionais de Saúde, não lhes reconhecendo, no
entanto, nem melhor remuneração nem melhor carreira.
Toda esta agressão que esta
Pandemia nos provocou, mostrou-nos uma outra vertente positiva e útil para
Todos: a demonstração da necessidade de se ter um serviço de saúde público, e a
necessidade de se repensar a administração e organização da saúde a nível
Hospitalar e Cuidados Primários, mas também e essencialmente, a nível da
Comunidade e das Instituições Sociais, IPSS’s e particular, onde os Enfermeiros
são imprescindíveis.
Humberto Domingues
Enf. Espec, Saúde Comunitária
2020.05.22 – 23h00