quinta-feira, 27 de março de 2025

O POTENCIAL DAS UCC IGNORADO PELO PODER POLÍTICO

O POTENCIAL DAS UCC IGNORADO PELO PODER POLÍTICO
Cortesia e Generosidade: Associação de Unidades de Cuidados na Comunidade

A Associação das Unidades de Cuidados na Comunidade (AUCC) reuniu em Gondomar, nos dias 20 e 21 de Março, cerca de um milhar de congressistas, tendo como tema deste VI Congresso “Integração de Cuidados e Ciclo de Vida”.

Foi um Congresso que agregou uma vasta presença, das mais variadas profissões no âmbito da Saúde e contemplou uma “Mesa-Debate” com os contributos das várias Ordens Profissionais. Contou também em paralelo com vários workshops e apresentações e comunicações livres orais e pósteres a concurso. Incluiu ainda a apresentação de um livro sobre “Saúde Escolar”. Assistiu-se a vários trabalhos e participações, debates e comunicações de uma qualidade extrema e inovadora, onde a evidência científica deram suporte a estes trabalhos. Qualidade esta, que vem em crescendo, de congresso para congresso. Também aqui, para além da qualidade, registou-se um sucesso pleno.

Apesar da demonstração de todo este vasto e hercúleo trabalho e de extrema qualidade na prestação de cuidados de saúde, que os Profissionais das UCC colocam, dão e oferecem na proximidade às Comunidades, o Poder Político continua a teimar, a ignorar e a ser incapaz de reconhecer esta importância de trabalho e realidade, continuando sem alterar a moldura jurídica destas Unidades, deixando o Despacho que lhe dão corpo, para passar a sua constituição assente em Decreto-Lei. De ano para ano, de congresso para congresso, se vem reforçando e repetindo este pedido, esta necessidade e esta reivindicação, mas a resposta, apesar das promessas, esbarra sempre na inconsequência, no adiamento e no esquecimento. Até ao momento constatamos a impotência dos vários Ministros da Saúde para alterar esta legislação. Lamentamos profundamente! Parece-nos que a AUCC, com os seus Associados deveria ser mais consequente e firme com o Governo.

Ao longo do Congresso e na especificidade de alguns painéis, a realidade das ULS e a “secundarização” que estas vem atribuindo aos Cuidados de Saúde Primários (CSP), foi uma evidência numa demonstração clara do desfoque político. E isto porque a legislação “construída e publicada” assim o possibilita. Há, claramente uma inversão e um desfoque real das decisões políticas, que não possibilitam opções sustentadas que diminuam a despesa na Saúde, que aumentem a promoção da qualidade de vida, a adopção de hábitos de vida saudáveis e a prevenção da doença, porque o discurso permanente e a decisão da construção de novos hospitais e de mais camas hospitalares, existe e confirma! E nesta “miopia” de decisões políticas inversas ao que várias Conferências e Declarações Mundiais preconizam, leva quotidianamente à desvalorização do trabalho e dedicação que os CSP fazem em favor das Comunidades.

Trabalhar a prevenção é prioritário, proporciona qualidade de vida, economia em internamentos e evita-se medicação prolongada. Este trabalho tem impacto e apresenta resultados de forma demorada, tardia, muitas vezes uma geração depois, e o poder político não se compadece com isso, quer resultados imediatos e por conta, cria políticas e prioridades, onde o retorno e os resultados são imediatos, hipotecando-se o futuro, traduzindo-se em efeitos políticos, assentando na iliteracia em Saúde e no aumento da despesa pública.

Somos muito críticos sobre o futuro e cuidados de saúde a prestar ao Indivíduo, aos Grupos e à Comunidade, se não houver orçamentos próprios e blindados, direccionados para os CSP, com uma linha de planeamento, de gestão e decisão própria e uma administração que não seja capturada por uma única classe profissional e por lobbies.

De entre os grandes temas abordados – A integração de cuidados, a Saúde Escolar, As Necessidades de Saúde Especiais, O valor acrescentado das UCC nas ULS, a Saúde reprodutiva – o último painel era o que estava a criar maior expectativa, nomeadamente os 8 projectos-piloto relativos às ECCI, no âmbito da Rede Nacional de Cuidados Continuados e Integrados. O Prof. Doutor Abel Paiva, Coordenador da Comissão Nacional desta Rede e Projectos deixou antever algumas novidades, mas as dúvidas continuam a gravitar quanto aos incentivos monetários e outros para estas Equipas, nomeadamente para os Enfermeiros, recursos colocados à disposição, poder de decisão e condições na gestão destas admissões na Rede e sua abrangência. A componente da Saúde Mental, pela complexidade que envolve, será tratada posteriormente. E porque se trata de projecto-piloto, as conclusões advirão da experiência adquirida na gestão dos mesmos.

Ganhos em Saúde é o que todos desejamos. A magnitude do trabalho a desenvolver não diminui em nada a ambição das UCC fazerem o que já fazem e passarem a fazer mais e melhor. O trabalho é vasto, engloba complexidade, vulnerabilidade e risco, mas os seus Profissionais estão à altura dos desafios, que são muitos. Assim surjam os investimentos e haja coragem do novo Governo e do novo Ministro da Saúde e, para a prioridade de auscultação, investimento e implementação dos estímulos e decisões que urgem em acontecer nos CSP. Os relatórios estão feitos, as conclusões são conhecidas, faltam apenas as boas e céleres decisões políticas. Mas que não passe pelo encerramento e esvaziamento funcional das UCC.

Quanto à AUCC, felicitar a Direcção e a Comissão organizadora por tão importante e abrangente evento, desejando a sua continuidade no próximo ano com o sucesso já alcançado e dizer, que as temáticas de tão vasto programa, são sempre um farol de clarividência, de intervenção e impacto quer no “Campus do Saber” quer na Comunidade, que os responsáveis do Governo e do Ministério da Saúde deveriam ouvir com toda a atenção e serenidade para daí, orientar as suas decisões.

Humberto Domingues
Enf. Espec. Saúde Comunitária
2025.03.26

terça-feira, 11 de março de 2025

AS INCERTEZAS DAS ELEIÇÕES, CERTAS!

AS INCERTEZAS DAS ELEIÇÕES, CERTAS!

Fonte e Autor: InaPlavans  - Cortesia e Amabilidade de cedência

Mergulhamos novamente num ciclo eleitoral (Regionais na Madeira, Legislativas, Autárquicas e Presidenciais), que traz consigo uma crise política, devido às Legislativas antecipadas. E era preciso? Em Portugal, poucas são as Legislaturas que se cumprem até ao fim. E esse incumprimento, não é culpa dos milhões de Eleitores, que na maioria dos casos, cumpre o seu dever cívico pelo custo que a Democracia tem.
Não sabemos a quem serve esta “confusão” política, porque a crise não serve a ninguém! Num momento em que, por circunstâncias internas e factores externos, a economia nacional, lá se estava a equilibrar e beneficiando das baixas taxas de juros e com isso benefício para a dívida soberana, eis que se confirma a “queda do Governo”. A gestão corrente do Governo que vai implicar um arrefecimento da economia, dos investimentos e com a incerteza, o adiar de projectos. Fazer com que os investidores adiem ou redirecionem os seus projectos e investimentos para outras latitudes geográficas. O tecido empresarial “doméstico” sofrerá com isso. O PRR que poderia ser a grande alavanca de investimentos públicos, sofrerá, inevitavelmente atrasos e incumprimentos. As reformas estruturais tão necessárias vão parar ou abrandar?

Estas eleições trarão clarificação dos poderes e mandatos num novo “rearranjo da distribuição de forças” e mandatos dos partidos, na Assembleia da República? Acreditamos que sim. Mas essencialmente, parece-nos que é necessária uma “limpeza” dos maus Deputados e dos maus exemplos, do baixo nível e da falta de decoro que as televisões nos transmitem, daquilo que se passa na Casa da Democracia, em plenos debates e trabalhos do Plenário. O insulto, a falta de educação, a linguagem, o mau exemplo. O jogo sujo, prevalece, na ausência de propostas e elevação. A intriga, a chicana política, a vitimização, a acusação e a circulação de falsas notícias, se quiserem fake news, como hoje é chique dizer, sempre aconteceu. Mas daí aos insultos verbais, bem audíveis, e ao uso de calão e brejeirices em plenário, durante os trabalhos e uso da palavra, é mau demais e reprovável.


Quanto às questões políticas que envolvem a situação, adivinhava-se que, num futuro mais próximo ou mais longo, as moções de censura iriam acontecer, perante um Governo minoritário, um Parlamento muito dividido e as necessidades de sobrevivência para alguns líderes e partidos (PS e BE), face aos escândalos que aconteceram nas suas fileiras (Chega). O curioso, ou não, é que foi precisamente a extrema-direita e a extrema-esquerda que no espaço de 15 dias apresentaram duas moções de censura. A verdade é que os extremos tocam-se. Por fim, a “moção de confiança” do Governo, chumbada no Parlamento.

Perante esta crise que se vai agudizar, a gestão corrente que se impõe face à queda do Governo, preocupa-nos e perguntamos como vai evoluir a reforma na Saúde? E os investimentos que são necessários e as dinâmicas nas ULS’s, que exigem celeridade e responsabilidade? Como se vai preparar o plano de Verão? Que critérios e prioridades, de forma atempada, se vão planear e implementar, correndo-se o risco de novo Ministro da Saúde e Equipa, e com isso, um pensar diferente? O SNS não pode passar por mais soluços e incertezas, para bem da sua consolidação e estratégia. Algumas questões destas também se colocarão à Educação, à Justiça e à Segurança Social. Consequências que afectarão, com certeza, quem menos culpa tem destas crises, mas que contribui com o dever cívico de votar e dos seus impostos, para sustentar estes “custos da Democracia” e dos solavancos de um País permanentemente adiado.

Cenários políticos: Com as eleições legislativas antecipadas, estará o Chega com receio de ver diminuído o seu Grupo Parlamentar? Desaparecerá o PAN do Parlamento? Com que Grupo Parlamentar ficará o PCP, depois do péssimo desempenho do seu líder? O BE será penalizado pelas formas e despedimentos com que tratou os seus trabalhadores, contrariamente ao que defende na AR? O CDS conseguirá crescer, ainda que à custa da Coligação com o PSD? A IL será capaz de ser mais clara que o discurso embrulhado do seu líder? O PS conseguirá desembrulhar o novelo de dificuldades e mudança de discurso que se tem visto, pelo seu Líder, da falta de Candidato Presidencial oriundo do Partido e a clarificação no apoio ao mesmo? Serão os fantasmas do “Costismo” uma realidade? E o PSD afirmar-se-á como o maior Partido de Portugal? Quanto “custará esta factura” eleitoral, traduzida em votos e mandatos ao Partido? Ficará adiado o reaparecimento de Pedro Passos Coelho? Luís Montenegro sairá reforçado e mais líder?

Como ficará a imagem para a história, do Presidente da República como o maior “dissolvente” da Assembleia da República, nestes seus dois mandatos?

Voltamos à pergunta: Quem beneficia destas crises políticas? Porque pagar, sabemos que é o Povo que as paga!

Uma coisa é certa e aconteceu: a pacificação social de várias classes profissionais. O diálogo social constituiu-se como um parceiro real e activo nas negociações. A valorização remuneratória de bombeiros, polícias, professores, enfermeiros, médicos, oficiais de justiça, etc., aconteceu. Beneficiando de várias conjunturas nacionais e internacionais, registou-se a diminuição da dívida pública, a baixa de juros, a diminuição da inflação e a diminuição do desemprego. Serão todos estes trunfos para o Governo e coligação da AD para sair de vencida nas Eleições Legislativas antecipadas? Só o soberano escrutínio do Povo o dirá.

Humberto Domingues
Enf. Espec. Saúde Comunitária
2025.03.11

sábado, 1 de março de 2025

MOÇÃO DE CONGRATULAÇÃO - Assembleia Regional Secção Regional do Norte - Ordem dos Enfermeiros

 MOÇÃO DE CONGRATULAÇÃO

Assembleia Regional Secção Regional do Norte-Ordem dos Enfermeiros

Bragança - 2025.02.28


Na Assembleia Regional da Secção Regional do Norte da Ordem dos Enfermeiros, que decorreu em Bragança, nas instalações do Instituto Politécnico desta Cidade, apresentei a seguinte Moção de Congratulação, que posta à votação, foi aprovada por unanimidade, pelos Enfermeiros presentes nesta Assembleia.

Link:
https://www.ordemenfermeiros.pt/media/37607/ata-minuta-plusmo%C3%A7%C3%A3o-congratula%C3%A7%C3%A3o.pdf


Transcrevo de seguida todo o texto da Moção de Congratulação:

1- Congratulação pela realização da “Convenção dos Enfermeiros em Fátima”:

  1. Pela excelente representação científica, cultural e etnográfica, da Secção Regional do Norte dos Enfermeiros, neste evento; 
  2. Pelo nível científico que o evento teve; 
  3. Pelas excelentes participações e moderações nas mesas e painéis, deste evento, por Membros desta Secção Regional, partilhando saberes e tornando visível e possibilitando a discussão científica em torno de um vasto trabalho que se desenvolve nas inúmeras dimensões e vectores, no âmbito da Saúde;
  4. Pela demonstração, que a Inteligência Artificial está aí, que será um parceiro importante da Enfermagem, mas que não a substituirá.
2- Congratulação pelo árduo trabalho do Digníssimo Bastonário, todo o Conselho Directivo Nacional e Regional:

  1. Na elevação com que têm realizado a vasta representação da Ordem dos Enfermeiros; 
  2. Pela afirmação da Enfermagem: 
  • No trabalho de diplomacia e de influência que fazem;
  • Na pressão para nomeação de Enfermeiros, para lugares de relevo e de decisão, nos diferentes Órgãos; 
  • Na afirmação do magnânimo trabalho de Enfermagem, junto de todas as Forças Políticas e Entidades; 
  • No trazer para a agenda mediática, diária e política dos problemas da Classe e a defesa da Enfermagem, que directamente afectam o SNS e o Sistema de Saúde
  • Pela presença na Comunicação Social, esclarecendo sempre os menos informados e marcando posição em favor da Enfermagem, diminuindo a iliteracia em Saúde;
                     
3- Congratulação pela aquisição de Nova Sede Nacional

a. Porque vem trazer dignidade à Ordem e aos Enfermeiros;

b. Na modernidade que representa e se pretende;

c.  Na visibilidade em que se vai traduzir para a Classe de Enfermagem;

d. Na facilidade de trabalho e “Campus do Conhecimento” ao se possuir uma Sede

contemporânea, que os tempos modernos nos colocam como desafio e exigem a

nossa vasta participação;


4- Criação do “Dia Nacional do Enfermeiro Especialista em Saúde Comunitária e de Saúde Pública – 12 de Setembro”

Congratulação pela proposta do Colégio Enfermagem Comunitária e da Ordem dos Enfermeiros pelo Sr. Bastonário, à Assembleia da República, sustentada na “Conferência de Alma-Ata de 12 de Setembro e da Declaração de Munique de 2000”, para a criação do “Dia Nacional do Enfermeiro Especialista em Saúde Comunitária e de Saúde Pública – 12 de Setembro”, porque:

a. Promove a visibilidade da Enfermagem na generalidade e da Saúde Comunitária

e Saúde Pública, em particular;

b. Pela importância desta Especialidade no âmbito dos CSP;

c. Pelo registo efectivo em calendário, desta data – 12 de Setembro – possibilitando referenciais de trabalho, de investigação, de prémios e de afirmação da Enfermagem.


Bragança, 28 de Fevereiro de 2025
O Proponente
Enf. Humberto José Pereira Domingues
Membro 10167

Humberto Domingues
Enf. Espec. Saúde Comunitária
2025.02.28

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2025

DIA NACIONAL DO ENFERMEIRO ESPECIALISTA EM ENFERMAGEM SAÚDE COMUNITÁRIA E DE SAÚDE PÚBLICA

DIA NACIONAL DO ENFERMEIRO ESPECIALISTA EM ENFERMAGEM 
SAÚDE COMUNITÁRIA E DE SAÚDE PÚBLICA

Fonte: Escola Superior de Saúde Atlântica (Generosidade, cortesia e cedência)

Todas as profissões merecem ter o seu dia registado no calendário, atribuindo-lhe importância, relevo e pelo menos, para que anualmente, essa efeméride seja lembrada e até comemorada, possibilitando referências de trabalho, de investigação e de prémios.

Nas Ciências Sociais e particularmente na Ciência da Saúde, usa-se/utiliza-se muito esta “saudável metodologia” para homenagear personalidades que se destacaram na ciência, a distinção de determinadas profissões, especialidades ou grupo profissional, doenças que têm um impacto enorme nas Sociedades, etc.
A Enfermagem não foge a esta regra. E ainda bem! Por um lado, pela Ciência que é e, por outro, pela importância que representa nos Sistemas de Saúde e relevância que com a sua intervenção, se traduz em ganhos em saúde para o Indivíduo, Família e Comunidade.
Por iniciativa do Colégio da Especialidade de Enfermagem Comunitária, foi elaborado um trabalho, que resultou numa proposta fundamentada apresentada ao Sr. Bastonário e Conselho Directivo da Ordem dos Enfermeiros, para a criação do “Dia Nacional do Enfermeiro Especialista em Enfermagem Comunitária e de Saúde Pública”. Esta proposta mereceu a aprovação e assim, o Sr. Bastonário enviou uma missiva a Sua Excelência o Presidente da Assembleia da República e a todos os Grupos Parlamentares e Deputados não inscritos, propondo e solicitando a criação do dia 12 de Setembro, data esta de comemoração da adopção da “Conferência de Alma-Ata” de 1978, promovida e realizada sob a égide da Organização Mundial de Saúde, “uma referência histórica no reconhecimento global da importância dos Cuidados de Saúde Primários”(CSP), para dia destes Enfermeiros Especialistas.
Tem particular importância a proposta de criação do dia supracitado, até pela actualidade que vivemos, pela secundarização que as políticas governamentais estão a atribuir aos CSP, em favor de uma visão “hospitalocentrica”. Parece-nos, infelizmente, que as opções políticas, a governança das ULS’s e os lobbies instalados na Saúde, abdicam da priorização dos CSP. Assim nos CSP, o volume de trabalho que a passar e a ser responsabilidade dos Enfermeiros, em muito diminuiria estes orçamentos exorbitantes e o consumismo de consultas, libertando o importante trabalho médico para outro nível de intervenção e tratamentos.

Entendemos como oportuno transcrever os seguintes parágrafos da missiva do Sr. Bastonário, porque reflectem a importância desta Especialidade de Enfermagem, na conjugação com a “Conferência de Alma-Ata/1978” e “Declaração de Munique/2000”:

“A Conferência Internacional sobre Cuidados Primários de Saúde, realizada, sob a égide da Organização Mundial da Saúde (OMS), a 12 de Setembro de 1978, em Alma-Ata, é uma referência histórica no reconhecimento global da importância dos Cuidados de Saúde Primários enquanto primeiro nível de contacto dos indivíduos, da família e da comunidade com o sistema de saúde, evidenciando a necessidade de actuação e compromisso de todos os stakeholders envolvidos, na protecção e promoção da saúde de todos.

O reconhecimento do Dia Nacional do Enfermeiro Especialista em Enfermagem de Saúde Comunitária e de Saúde Pública constitui-se como uma homenagem a estes Enfermeiros, reflectindo o reconhecimento da contribuição indispensável destes profissionais para a saúde global, em conformidade com os princípios da Conferência de Alma-Ata de 1978, da Declaração de Munique de 2000 e pelos princípios de acesso universal e seguro a cuidados de saúde da OMS.

Este dia serviria para celebrar os Enfermeiros Especialistas nesta área, mas também para sensibilizar para a importância de expandir e valorizar a sua função crítica nos Cuidados de Saúde Primários, essenciais para alcançar a cobertura universal de saúde.”

Os CSP onde a Enfermagem continua a desempenhar e a desenvolver a sua vasta e importante intervenção na Comunidade, assentam e “está intrinsecamente alinhada com os princípios de Alma-Ata”. Pensar, governar e gerir a Saúde, sem preocupação de acautelar a dimensão dos CSP, no global e da Enfermagem Comunitária e de Saúde Pública, em particular, é abdicar de muito que a evidência cientifica demonstra e é continuar a gastar grandes orçamentos de despesa no tratamento da doença e na visão dos cuidados secundários, com urgências e serviços de internamento/cirurgias, incapazes de dar resposta às demandas e solicitações da Comunidade.

Relendo estas declarações, parece-nos que o modus operandi na gestão da Saúde, para alcançar o sucesso terá que ser o aproveitamento da competência e conhecimentos dos Enfermeiros nas várias dimensões do “cuidar e do tratar”, mas essencialmente na dimensão do “prevenir”, investindo-se na acessibilidade de cuidados de saúde, na promoção da saúde, na prevenção de doenças e na prestação de cuidados continuados e integrados, de forma equitativa na e para a Comunidade.

Assim a Assembleia da República reconheça esta data histórica e aprove a criação deste dia no calendário Português.

Humberto Domingues
Enf. Especialista em Saúde Comunitária
2025.02.25

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2025

DIA MUNDIAL CONTRA CANCRO - A CARTA QUE NUNCA TE ESCREVI!

DIA MUNDIAL CONTRA CANCRO
4 DE FEVEREIRO
A CARTA QUE NUNCA TE ESCREVI!

Fonte: Generosidade e Cedência: Santander

A propósito do “Dia Mundial do Cancro”, que se assinala a 4 de Fevereiro, sendo uma doença que assusta e afecta muitas pessoas, com taxas de mortalidade ainda altas em alguns géneros de cancro, mas felizmente com sucesso e esperança de vida aumentada em muitos mais, temos exemplos tocantes de Pessoas que “tiveram, viveram e sobreviveram à doença”, numa “viagem” dolorosa, de muitas lágrimas, sofrimento, angústias e tristeza, mas onde a força de viver, o encarar e o assumir positivamente a doença, trouxe, com toda a certeza, ganhos e grandes vitórias.

A crónica de hoje, tem um “quê de especial”, por ser enquadrada nesta data e ser dirigida a uma figura pública, que venceu o cancro e partilhou essa dolorosa experiência de vida, com uma serenidade e coragem tocante.

Ana Rita Cavaco escrevo para Ti e hoje trato-te assim, mas nunca o fiz desta forma, apesar de várias vezes insistires, para não te tratar por Bastonária, mas sim por Ana Rita.
Conhecemo-nos, pessoalmente, pela primeira vez, quando cruzamos no Congresso do PSD em Espinho. Apresentei-me e tu escutaste-me como se me conhecesses há muito tempo. Deste-me toda a atenção, apesar de ter concorrido, numa lista opositora à tua, no teu primeiro mandato. O Tempo foi passando, fomo-nos cruzando nas lutas e manifestações dos Enfermeiros, onde sempre estiveste, apoiaste e lideraste. Tiraste tantas selfies, deste tantos beijinhos e recebeste tantos abraços. Envolveste os “Teus Enfermeiros”. Tal como a mim, já de cabelos grisalhos e perda de algum, como a tantos Enfermeiros, trataste sempre pelo nome e na maioria das vezes precedido por “meu Querido”.

Foste polémica, estremeceste “alicerces de tantos edifícios” que se julgavam intocáveis. Desacomodaste os acomodados da Enfermagem. Criaste inimigos, suscitaste invejas, suscitaste confrontos ideológicos, políticos e estados de alma. Provaste que os mais fracos investidos em lugares de poder e de governo, perseguissem os Enfermeiros criando falsos “atoleiros” em torno da Ordem dos Enfermeiros, demonizando, insultando, desvalorizando e perseguindo-os, tentando lançar esta instituição no lamaçal. Trouxeste a Enfermagem para a agenda do dia. Houve também momentos menos bons e difíceis para a Classe. Mas muitas das “primeiras páginas” dos jornais, eram precisas que acontecessem. Possibilitaste, com certeza, com o contributo de tantos outros Enfermeiros, que a nossa Sociedade fosse melhor tratada, mais respeitada e até elegesse a palavra “ENFERMEIRO”, como palavra do ano.

Tiveste uma Equipa de Enfermeiros e Colegas fantásticos que souberam criar a diferença e que o olhar para a doença, para os lares, Centros-de-Dia/ERPI, fosse também um foco, na demonstração da carência de cuidados de saúde, por enfermeiros, adequados e humanizados, onde os seus Utentes eram maltratados, descuidados e amontoados em divisões sem condições e dignidade à vida humana.

E… mais uma vez, no “Dia Mundial do Cancro”, partilhaste um pequeno vídeo, de uma mensagem avassaladora, fabulosa, da tua vivência com o “Cancro da Mama”. Um vídeo pequeno no tempo -poucos segundos- mas de uma grandeza e magnanimidade e generosidade, num exemplo, que ficamos quase sem palavras… Quanta coragem expressa em poucos segundos de um filme, “num caminho”, por certo, longo e doloroso. Emocionado, agradeço esta partilha de coragem, de exemplo de vida, de abnegação e que vale a pena lutar. Foste/és uma heroína.

Escreveste ao Primeiro-Ministro alertando para a necessidade de baixar no limite inferior de rastreio para o cancro da mama. Deste o teu exemplo. O Primeiro-Ministro ouviu-te, atendeu o teu pedido e alerta e determinou essa mudança. Passou a ser dos 45 aos 74 anos de idade.

Muitos de nós sabem, porque “sentiram na pele”, ou porque tratam destes doentes, como é longo o trajecto num calvário que deixa muitas marcas, coloca muitas perguntas e dúvidas, questionando a Deus e ao Divino, resumindo-se “porquê a mim? Porquê comigo? Porquê eu?”

Um caminho de pedras, de várias fases e etapas, de exames, de cirurgias, de recuperação e momentos também traumáticos advindos da agressividade da quimioterapia, radioterapia, causando fadiga, disfagia, alterações das características da pele, astenia, etc. Quis o destino que fosses um exemplo da intervenção do saber dos Homens e da Ciência, da força na fé inabalável do Divino e do espírito de luta pela vida, da alegria de viver e da não acomodação.

Obrigado Ana Rita Cavaco, por este fabuloso exemplo de abnegação, no assinalar desta data – Dia Mundial do Cancro. Consigamos todos nós receber esta mensagem positiva e de lutar como lutaste! Obrigado!

Humberto Domingues
Enf. Espec. Saúde Comunitária
2025.02.11

quarta-feira, 29 de janeiro de 2025

COMUNICAÇÃO EM SAÚDE. UMA FERRAMENTA ÚTIL?

COMUNICAÇÃO EM SAÚDE. UMA FERRAMENTA ÚTIL?

Gentileza: contabeis.com.br

Vivemos na modernidade, na geração das tecnologias, dos ecrãs, na afirmação e ocupação do espaço social e outros, pela Inteligência Artificial (IA). Na Saúde como noutras disciplinas, a IA é útil, rápida e instrumento gerador de dados, metadados e indicadores, muito actual e aliada da gestão. Ninguém tem dúvida disso! Mas comunicação é comunicação e até para nos “relacionarmos” com as máquinas, precisamos de comunicar através de uma linguagem muito própria, onde algoritmos e fórmulas matemáticas, marcam o passo, desta forma “científica”, actual.

Comunicar entre as pessoas é inato. Saber comunicar é mais difícil, mais trabalhoso e varia conforme os contextos, percebendo-se sempre e com suporte a definições sociológicas que “a Comunicação refere-se à transferência de informação de um indivíduo ou grupo de indivíduos para outro, quer pela fala, quer através de outro meio”. Poderemos falar de sinais de fumo, do rufar dos tambores, ao uso do papiro desde o tempo dos Romanos, até ao papel de hoje, mais ou menos brilhante e múltiplas cores, nas comuns folhas A4, por SMS, ou “post” das novas tecnologias. Isto é Comunicação! E o Mundo pela teoria do filósofo e teórico da comunicação Marshall McLuhan, tornou-se na “aldeia global” com o uso dos meios de comunicação social electrónicos.
Nada se faz sem Comunicação! E esta tem de ser adequadamente trabalhada de acordo com o que queremos comunicar e onde queremos comunicar. Quem são os receptores da mensagem. Em que contexto estamos a comunicar.


A “Comunicação em Saúde”, é por isso difícil, desafiante e uma ferramenta imprescindível na relação entre os próprios Profissionais e Equipas de Saúde e os Pacientes e Familiares, destes. Para além de difícil é multifacetada, assente muitas vezes em diagnósticos, linguagem técnica sofisticada, ideias e sentimentos, entre todos os seus intervenientes. Muito do sucesso ou fracasso e adesão ao tratamento inicia-se precisamente com uma boa ou má comunicação. A relação de confiança está aqui presente e inserida.

Perante estas realidades, esta Comunicação exige uma série de parâmetros para a tornar eficaz, quiçá eficiente: clareza e objectividade, empatia, a escuta activa, adaptação à linguagem e ao contexto.

Temos para nós 3 exigências inamovíveis que devem estar presentes: A relação do Profissional de Saúde com os pacientes; As campanhas de informação claras e objectivas para o que se pretende, em termos de Saúde Pública; E na gestão de crises e catástrofes na Saúde – temos como exemplo desastroso, a má comunicação, cheia de ruídos e de “vários actores”, durante a Pandemia Covid-19, o que não deve acontecer! Assim, esta deve ser muito específica, objectiva e clara.

A “Comunicação em Saúde” encontra inúmeras barreiras que dificultam muitas vezes o sucesso ou melhores resultados e indicadores, começando pela falta de tempo dos Profissionais, decorrente do volume e sobrecarga de trabalho, com momentos menos personalizados. A ansiedade e o medo presente pode influenciar a compreensão e o reter de informação pelo paciente/familiar. A falta de empatia e o sobranceirismo dos Profissionais podem motivar distanciamento, dificultando a comunicação. As incertezas de diagnósticos, refugiando-se em linguagem e termos técnicos, para não demonstrar insegurança ou ignorância, ou qualquer outro sentimento. As possíveis patologias ou limitações inerentes à idade, como a diminuição da acuidade visual ou auditiva podem efectivamente limitar a compreensão do que é transmitido. E as diferenças culturais, cada vez mais presentes, nesta “aldeia global”, onde crenças e valores enraizados, atribuem significados diferentes ao que é comunicado. E como ponto importante destas barreiras, a falta de treino em comunicação de forma a torná-la mais clara, efectiva e assertiva, é um grande obstáculo a ultrapassar.

O respeito pelas diferenças e o reconhecimento das limitações são passos importantes na dignificação da relação entre todos, pacientes incluídos, para o sucesso da Comunicação em Saúde.

Na Saúde pretende-se e é necessária que a comunicação seja humanizada, eficaz, centrando-se no paciente, trazendo ou construindo-se uma melhoria da qualidade de vida, deste.

Assim, a Comunicação em Saúde, assume-se como uma estrutura de suporte central na “construção de um edifício” que não pode/não deve “sofrer abalos”, para uma confiança e sistema mais claro, humano e de eficiência, para os objectivos a atingir.

Humberto Domingues
Enf. Espec. Saúde Comunitária
2025.01.29

terça-feira, 28 de janeiro de 2025

ASSEMBLEIA GERAL DO COLÉGIO DE ESPECIALIDADE DE ENFERMAGEM COMUNITÁRIA

ASSEMBLEIA GERAL DO COLÉGIO DE ESPECIALIDADE 
DE ENFERMAGEM COMUNITÁRIA
2025.01.25
INSTITUTO JEAN PIAGET


Decorreu nas instalações do Instituto Jean Piaget de Gaia, a 2a. Assembleia Geral do Colégio de Especialidade de Enfermagem Comunitária, onde fiz uma intervenção antes da Ordem do Dia, sustentada em 3 pontos, a saber:



Congratulação pela realização da Convenção dos Enfermeiros, em Fátima, pela:
  • Forma brilhante como decorreo o evento;
  • Pelo facto dos Membros da Mesa deste Colégio terem moderado mesas e painéis e pelo que trouxeram à discussão, visibilidade do trabalho, que fazemos no terreno e na Comunidade;
  • Pela demonstração da Inteligência Artificial (IA) será um parceiro da Enfermagem, mas não substituirá a Enfermagem;

Congratulação pelo trabalho do Digníssimo Bastonário, Enf. Luís Filipe Barreira
  • Na elevação com que tem realizado toda a representação da Ordem dos Enfermeiros;
  • Pela afirmação da Enfermagem:
    • Trabalho diplomático e de influência;
    • Junto de todas as forças políticas e outras entidades;
    • Na defesa permanente da Enfermagem e na afirmação desta junto da Comunidade;
    • Pela presença na Comunicação Social, sempre esclarecendo e defendendo a Enfermagem;


Congratulação pela aquisição da nova sede para a Ordem dos Enfermeiros
  • Porque vem trazer dignificação aos Enfermeiros e Ordem;
  • Na modernidade que se pretende;
  • Na visibilidade que se vai traduzir;
  • Na facilidade de trabalho ao se ter uma Sede moderna, porque se vai traduzir num grande passo para a afirmação e visibilidade da Ordem e da Enfermagem.
Humberto Domingues
Enf. Espec. Saúde Comunitária
2025.01.27

terça-feira, 21 de janeiro de 2025

CASO ANTÓNIO GANDRA D`ALMEIDA


CASO ANTÓNIO GANDRA D`ALMEIDA

INTERESSES E FALTA DE PUDOR?
A POLÍTICA NO SEU PIOR!


Não consigo perceber, nem aceito que uma personalidade, escolhida e escrutinada (imaginem se não fosse) como o Dr. António Gandra D'Almeida, ao que parece, com estas melindrosas e condenáveis sobreposições/promiscuidades, a serem confirmadas, seja nomeado para um importante lugar, de uma entidade do SNS (DE), pondo em causa, o melhor que se pretende e deseja, no âmbito da Saúde.

Interesses e falta de pudor? A política no seu pior!

Não aceito!

Humberto Domingues
Enf. Espec. Saúde Comunitária
2025.01.21

quinta-feira, 16 de janeiro de 2025

A SAÚDE ESCOLAR NA PREVENÇÃO E NA INCLUSÃO

A SAÚDE ESCOLAR NA PREVENÇÃO E NA INCLUSÃO

A Saúde Escolar (SE) é um parceiro activo, de trabalho, de intervenção, de ajuda na reflexão, na promoção da saúde e hábitos de vida saudáveis e prevenção da doença, na vida dos Agrupamentos Escolares/Escolas não agrupadas/Escolas Privadas e Escolas Profissionais. Esta parceria atravessa diversos programas e projectos, desde a sexualidade a várias dimensões da prevenção: infecções sexualmente transmissíveis (IST’s), Vírus do Papiloma Humano (HPV), gravidez indesejada na adolescência, saúde mental, violência no namoro, no consumo de substâncias aditivas, na alimentação, etc…...

As Escolas face à dimensão que hoje têm, estabelecidas em Agrupamentos ou não, deixaram de ser as Escolas de Outrora, com as suas virtudes e defeitos num contexto próprio da época, para passarem a ser uma “Comunidade Escolar” com as vicissitudes que as comunidades têm e potenciam. A sua População discente é, e por isso, em muitos casos, uma fiel representação de toda a Comunidade que está na abrangência/influência do Agrupamento Escolar do seu território.

Os Agrupamentos Escolares/As Escolas não são todas iguais. E ainda bem! Têm projectos pedagógicos diferentes, prioridades diferentes e visões diferentes, sobre o território e a sua Comunidade. Enquadrados em diferentes realidades onde se inserem, urbanas, do litoral ou do interior, as oportunidades também são diferentes. E por isso, também, a importância da SE.

A SE rege a sua intervenção assente no “Programa Nacional de Saúde Escolar” (PNSE). As intervenções desta devem ser numa metodologia de projecto e com prévio diagnóstico de necessidades para “mostrar e encontrar” e definir as prioridades. Longe vai o tempo em que a SE era o “toca e foge” em sessões avulsas, às vezes pouco estruturadas e de utilidade discutível. Intervir na Escola e na sua Comunidade, é estabelecer uma relação com/no Individuo, na Família e no Grupo. Daí que, a SE é um trabalho delicado, multifacetado, com fronteiras não perceptíveis à primeira vista, e que pode tocar em questões sociais ou societais minuciosas e sensíveis a pensamentos, formatos e juízos. Trabalhar a Comunidade Escolar é também trabalhar, não só com os Discentes e Corpo Docente, mas também outros activos, similarmente importantes, como a Associação de Pais e Encarregados de Educação. Hoje começam a emergir diferentes credos e religiões no seio da Comunidade, que podem, para o bem e para o mal, turvar ou desfocar as intervenções em/de Saúde, particularmente, a nível da sexualidade.

Está a ser ultimado um novo PNSE. Resta-nos aguardar para saber “que roupagem nova” vai trazer e quem o vai implementar no terreno e com que recursos.

Daquilo que conhecemos, grande parte da SE é feita no largo, amplo e útil trabalho, pelos Enfermeiros, através das Unidades de Cuidados na Comunidade (UCC), com alguma colaboração da vertente da Saúde Pública e onde, em honrosos casos também, tem a Autarquia Municipal como parceiro.

Há um vasto trabalho de dedicação, de projectos, de inovações, feito e implementado no terreno, ao longo do território, que só é possível, face ao conhecimento, carolice e parceria da Enfermagem, da Saúde Comunitária no global, em todos os tipos de Escolas, atrás referidas. Para realizar tão vasto trabalho de articulação entre todos os Profissionais da Saúde, da Educação das Forças de Segurança/Escola Segura e outros “Actores Sociais”, é necessário conhecer bem o processo, colocar dedicação, empenho e investimento, confrontado muitas vezes, com a falta de recursos humanos, materiais, viaturas para a deslocação e a não valorização do trabalho de Prevenção e de diminuição da literacia em Saúde que aqui está implícito. A ignorância, por vezes, leva a questionar a “estratégia, sem se conhecer a táctica” e a razão de intervenção!

O Presente e todo o caminho e percurso já feito diz, que é necessário investir mais na SE. É preciso proporcionar às Equipas mais recursos, perceber o que são rácios e dotações seguras para responder a um universo exigente e tão grande de alunos, nos diferentes estadios de crescimento, evolução e aprendizagem. É preciso compreender a grandeza de todo este trabalho e possibilitar/criar Equipas multidisciplinares, reais, com alocação de horas necessárias para respostas efectivas. É necessário investir na formação de Profissionais especializados e idóneos para trabalhar esta área na educação destas crianças e jovens adultos para torná-los capazes de tomarem decisões com base no conhecimento e informação, face aos desafios e tentações que “se oferecem” todos os dias. Que sejam capazes e saibam dizer NÃO!

Promover a investigação em SE é modernizar e valorizar tão amplo trabalho. Possibilitar que cada Agrupamento Escolar ou Escolas, conforme a sua dimensão, possua um Enfermeiro e que este “não passe” na Escola, mas “esteja na Escola”. E que da mesma forma que há um Psicólogo para as Escolas, passe também a haver um Assistente Social, face a uma dimensão de carências, necessidades e de inclusão que existe, aumentado pela mobilidade geográfica de Indivíduos, Famílias e Comunidades, que se instalam nos territórios, fugindo às guerras, procurando trabalho ou deslocados por outras razões.

Tratar hoje das Comunidades Escolares é investir para se conseguir um futuro inclusivo, tolerante, multicultural, mas essencialmente, saudável e informado.

Humberto Domingues
Enf. Espec. Saúde Comunitária
2025.01.16

segunda-feira, 13 de janeiro de 2025

DESINFORMAÇÃO OU PRECONCEITO? UMA RESPOSTA A HENRIQUE RAPOSO

DESINFORMAÇÃO OU PRECONCEITO?
UMA RESPOSTA A HENRIQUE RAPOSO

Os enfermeiros não são heróis acidentais nem coadjuvantes no palco da saúde. São protagonistas indispensáveis, cuja dedicação vai além de qualquer reconhecimento superficial
10 janeiro 2025 11:27

Recentemente, Henrique Raposo, cronista do Expresso há longos anos, publicou um texto intitulado “Recuso ser visto por um médico que só quer fazer 150 horas extraordinárias”, em que, a dado momento, escreveu: "Sem o trabalho além do horário de funcionário, um médico não será um médico, será um enfermeiro com mais galões no ombro."

Esta afirmação não só reflete uma visão desinformada sobre a profissão de enfermeiro, como perpetua preconceitos que são ofensivos e desrespeitosos para uma profissão central em qualquer sistema de saúde.

E não é a primeira vez que Henrique Raposo adota um tom depreciativo em relação aos enfermeiros. Poderíamos, simplesmente, interpretá-lo como fruto de ignorância ou falta de compreensão sobre o que realmente significa ser enfermeiro, mas é importante que se aborde esta questão através de uma dimensão mais ampla: o papel dos enfermeiros no sistema de saúde, a evolução da profissão e a visão, ainda distorcida, de alguns segmentos da sociedade.

Aquela frase carrega, implicitamente, a ideia, completamente errada, de que os enfermeiros seriam uma versão "menor" de médicos. Ora, a enfermagem é uma profissão autónoma, regulamentada e baseada em evidências científicas, com um corpo de conhecimentos próprio que a diferencia de qualquer outra profissão de saúde.

Ser enfermeiro não é "um passo a menos" para ser médico, é uma escolha consciente e uma vocação que exige competências específicas e um olhar distinto sobre a saúde. Os enfermeiros não querem ser médicos. Não porque lhes falte qualquer capacidade, mas porque escolheram uma profissão que está enraizada em algo que vai além do diagnóstico e do tratamento: o cuidado humanizado, contínuo e integral, que coloca o doente no centro de todos os atos.

Além disso, a ideia de que a enfermagem pode ser "funcionalizada" — ou seja, limitada a horários rígidos de trabalho — também mostra uma total falta de compreensão sobre a realidade. Os enfermeiros dedicam-se a um trabalho que não é compatível com um horário normal, acompanham o doente em todos os momentos da vida, da entrada à saída do sistema de saúde, da prevenção à reabilitação. Contudo, este compromisso não pode ser confundido com esgotamento ou exploração laboral.

Na enfermagem, o trabalho fora do horário normal é uma realidade comum, mas deve ser encarado como um esforço excecional e não como norma. Aliás, os enfermeiros são os campeões das horas extraordinárias no SNS, um reflexo da carência crónica de recursos humanos e da crescente pressão sobre o sistema de saúde. Estas horas, realizadas frequentemente em condições de exaustão física e emocional, representam muito mais do que números em folhas de cálculo: são um testemunho da dedicação de quem, muitas vezes, sacrifica o seu bem-estar e vida pessoal para garantir a continuidade dos cuidados prestados aos doentes. O verdadeiro compromisso com a saúde não se mede em horas extraordinárias, mas na capacidade de manter a excelência sem comprometer a saúde mental e física do profissional.

A romantização do trabalho extenuante, destacada por Henrique Raposo, revela uma visão perigosa sobre as profissões de saúde. Não se é melhor enfermeiro ou médico pelo número de horas extraordinárias realizadas, mas pela competência, ética e pela capacidade de oferecer um cuidado seguro e eficaz. Exigir que profissionais de saúde se submetam a um esgotamento extremo para provar o seu valor é, no mínimo, uma irresponsabilidade que coloca em risco os profissionais e os doentes.

Nos últimos 50 anos, a enfermagem passou por uma evolução exponencial, tanto em Portugal como no mundo. Hoje, é uma área de alta especialização, com enfermeiros a assumir funções autónomas e a desempenhar papéis fundamentais em todas as áreas clínicas e também na gestão de serviços de saúde, docência, investigação, etc.

É importante que os mais desatentos saibam que, atualmente, os enfermeiros portugueses lideram projetos de inovação em saúde, desenvolvem investigação científica e participam na formulação de políticas públicas de saúde. Esta evolução, bem como a dedicação de gerações de enfermeiros que lutaram por educação de qualidade, regulamentação profissional e condições dignas de trabalho, contribuiu para um maior reconhecimento social da profissão.

Apesar deste avanço, ainda há um caminho a percorrer. A sociedade, embora cada vez mais consciente do papel essencial dos enfermeiros, continua a precisar de ser esclarecida, como demonstra o texto de Henrique Raposo.

A enfermagem é uma profissão nobre, cuja dedicação é direcionada exclusivamente para o bem-estar do outro. Subestimar o valor de um enfermeiro é, em última análise, desrespeitar todos aqueles que diariamente contribuem para salvar vidas e melhorar a saúde dos portugueses.

Quem minimiza o trabalho dos enfermeiros, ignora a complexidade da sua intervenção, o impacto que tem na vida dos doentes e o esforço diário necessário para exercer a profissão. A crítica, baseada numa visão distorcida, revela, afinal, mais sobre a falta de conhecimento de quem a profere do que sobre a realidade da enfermagem.

Os enfermeiros não são heróis acidentais nem coadjuvantes no palco da saúde. São protagonistas indispensáveis, cuja dedicação vai além de qualquer reconhecimento superficial.

Comentários como os de Henrique Raposo não diminuem a força, a grandeza ou a importância da enfermagem. Mas, ainda assim, seria bom que se pudesse retratar junto dos seus leitores.

Por fim, a todos enfermeiros portugueses que se sentiram ofendidos, e foram muitos, quero dizer-vos que são insubstituíveis. O vosso papel não é menor, é único e essencial. A dignidade da profissão de enfermeiro merece ser respeitada, valorizada e, acima de tudo, compreendida. E, mesmo diante de visões distorcidas, jamais desistam de lutar por um futuro mais humano e justo para todos.

Bastonário da Ordem dos Enfermeiros
Enf. Luís Filipe Barreira
2025.01.10

quarta-feira, 1 de janeiro de 2025

QUE DESAFIOS 2025 PODE TRAZER PARA A SAÚDE?

QUE DESAFIOS 2025 PODE TRAZER PARA A SAÚDE?


Não é pela passagem de ano que os factos se alteram por si só. Muito menos na Saúde!

Porque falamos mais sobre Saúde; Porque questionamos mais sobre as consequências ecológicas, económicas e sociais na Saúde; Porque os recursos são sempre escassos, face a tantas solicitações, de problemas do passado por resolver e novos que surgem a cada momento; Porque a Saúde está mais politizada, como nunca esteve e porque nos toca pessoalmente; A Saúde está na agenda política e do quotidiano de cada Cidadão.


Há questões da Saúde que são cada vez mais globais e não deste ou daquele País, desta ou daquela região e a mobilidade e a “Geografia da Saúde”, são cada vez mais demonstrativas dessa realidade.



Acreditamos que 2025 será um ano muito preenchido com questões da Saúde. Por um lado na implementação e consolidação de prioridades, governança na Saúde e opções do Governo, na mudança de Conselhos de Administração e alteração de filosofia de trabalho que as Unidades Locais de Saúde (ULS) estão a impor. Por outro lado, as inovações tecnológicas, avanços científicos e Inteligência Artificial (IA), nas mudanças demográficas e o que isto pode impactar nas condições de saúde e no acesso aos cuidados. E ainda, a importância dos Recursos Humanos, que cada vez mais escasseiam, emigram e mudam de profissão, face aos baixos salários, ao desgaste emocional e físico a que estão permanentemente sujeitos, e à falta de uma carreira que estimule a fixação destes profissionais, com maior preponderância para Enfermeiros e Médicos.


Vai acontecer, mais cedo ou mais tarde, um olhar diferente sobre todas estas e outras questões da “Saúde” em particular e, da “Saúde Pública”, em geral. Poderemos atrever-nos a reflectir brevemente sobre algumas.

Doenças Crónicas e envelhecimento das Populações:
A População Portuguesa e também a mundial estão a envelhecer de forma acelerada. A “esperança de vida” vai aumentando e a natalidade diminuindo, com particular registo nos países desenvolvidos. Mas associada a esta realidade, há uma prevalência aumentada de doenças crónicas e toda a comorbilidade em torno da “diabetes tipo 2” das doenças cardiovasculares, cerebrovasculares e neurodegenaritivas (ex: Alzheimer, Parkinson).

Saúde Mental e o bem-estar das Populações:
No estadio em que vivemos, podemos chamar à Saúde Mental, como a “patologia e a preocupação da modernidade”, porque esta afecta de forma crescente e preocupante, a População das diferentes faixas etárias.
As solicitações ao desempenho são muitas, o stresse é constante, a competitividade desde tenra idade está presente em cada momento, potenciando transtornos mentais, depressões, ansiedades e angústias.
O consumo de medicação, substâncias aditivas e estimulantes, está cada vez mais presente e afecta as Pessoas de hoje e de amanhã.
Será muito desafiante a resposta da “Saúde Mental” às necessidades dos Cidadãos e Populações, numa solução efectiva, mais próxima, numa abordagem terapêutica sem estigmas e onde o despertar para a doença mental, consciencialize em termos de “Saúde Pública”, esta existência e realidade.

A Eco-Saúde, a Saúde Ambiental e as Mudanças Climáticas:
A “Saúde” é de tal forma necessária, abrangente, exigente e multifactorial, que é sujeita a inúmeras pressões, criando a outras disciplinas a importância e implementação de inovações ao nível do pensamento, das atitudes e na obtenção de resultados.
As “mudanças climáticas” através das alterações de temperaturas, poluição do ar e da água, inundações e secas prolongadas, têm impacto directo nas condições de saúde das Populações, facilitando múltiplas doenças, infecções respiratórias e de vários foros. Noutro contexto importa um olhar minucioso e cuidado sobre a segurança alimentar, a qualidade dos produtos e o acesso ao consumo de água potável.
O comportamento colectivo do Cidadão e Nações, pode contribuir e muito, para a estagnação do aquecimento global, a diminuição dos gases e efeito de estufa e a consciencialização para o fortalecimento e implementação de políticas públicas de “Saúde Ambiental”.

Desigualdades no Acesso aos Cuidados de Saúde – O papel da IA e da Tecnologia:
A existência de condicionalismos geográficos, sociais e económicos, condiciona e muito o acesso aos cuidados de saúde, criando um fosso de desigualdades entre Cidadãos e Regiões. Esta é uma barreira difícil de transpor. Poderá a tecnologia, a IA e as teleconsultas facilitar e tornar mais integrador, os cuidados de saúde? Diminuir as diferenças no acesso e a realização de exames de diagnóstico?
A confiança assenta no potencial da tecnologia para esbater estas diferenças. A IA está aí para ajudar no tratamento de dados, nos diagnósticos mais precisos e rápidos e essencialmente, o mais desejável, que ajude a trabalhar a “Prevenção”.
Contudo, por mais que haja tecnologia moderna, IA cada vez mais presente, serão sempre precisos e necessários Profissionais de Saúde, com especialização diferenciada, com proximidade e humanismo, junto dos doentes e Famílias. Para além disso, outros desafios geográficos, bélicos, tecnológicos e ambientais se colocarão, no pensamento estratégico e de planeamento em Saúde a adoptar.

Para o cuidar e tratar de todas estas patologias, que exigirá um acompanhamento contínuo, implicará muitos Recursos Humanos e materiais, a ampliação dos cuidados domiciliários e o aproveitamento das novas tecnologias e IA para a monotorização dos doentes, desde o seu domicílio ou região. O modelo integrador, acessível e personalizado por um lado e, por outro, a promoção do bem-estar, das condições de saúde e a Prevenção, poderão ser a “chave” para responder a novos e velhos desafios e dar oportunidade ao potencial aproveitamento da inovação da ciência, pondo-a ao serviço do Cidadão.

Humberto Domingues
Enf. Espec. Saúde Comunitária
2025.01.01

O POTENCIAL DAS UCC IGNORADO PELO PODER POLÍTICO

O POTENCIAL DAS UCC IGNORADO PELO PODER POLÍTICO Cortesia e Generosidade: Associação de Unidades de Cuidados na Comunidade A Associação das ...